Leonardo Neumann cresceu em meio às rocas de fios de lã e máquinas de tecer. Das lembranças da infância, talvez a mais viva seja a de andar pela fábrica com os seis irmãos. Em julho, a Malhas Imperial, empresa criada pela mãe Nelcy, completa 46 anos. É a malharia mais antiga de Nova Petrópolis. Leonardo até tentou não estar à frente do negócio, mas não conseguiu. Depois de experiências em outras empresas, voltou para "casa". Viu no empreendimento uma oportunidade não só de ganhar dinheiro, mas de manter viva a história da malharia e da família.
— Está no nosso DNA. A gente domina, conhece — diz ele, que comanda a empresa com os irmãos Rosane e Eduardo Neumann.
A história dos Neumann não é exceção. Aliás, é quase regra a vocação familiar nas malharias de Nova Petrópolis. Márcio Kny, que também cresceu acompanhando a mãe Sueli produzir peças de lã desde 1986, se incorporou naturalmente ao negócio da família quando atingiu a idade para trabalhar. Na Grecy, permaneceu até criar, em 2002, sua própria linha, a Mr. Kny, voltada para o público masculino. A esposa Aline Cshwantes cria as coleções e o pequeno Anthony, oito meses, já acompanha os pais nas lojas e na fábrica, que é compartilhada entre as duas marcas e tem nove pessoas na produção.
— Para alguns, o sonho é passar em um concurso público ou trabalhar em uma grande empresa. Para mim, sempre foi empreender — conta Márcio.
Assim como os Neumann e os Kny, outras dezenas de famílias fazem o setor malheiro prosperar. São cerca de 60 malharias na cidade que empregam aproximadamente 1,8 mil pessoas. O segmento é tão importante que, há 30 anos, uma feira do setor é realizada. O Festimalha, que se inicia na quarta-feira, dia 1º de maio, representa para as empresas participantes a chance de ampliar de forma significativa o faturamento do ano.
— Temos algumas malharias que dependem só do Festimalha. Para outras, é complementar — salienta Marcos Alexandre Streck, presidente da Associação Comercial e Industrial de Nova Petrópolis (Acinp), entidade promotora do evento.
A expectativa da organização é de comercializar 360 mil peças de malhas na edição deste ano, o equivalente a 40% da produção anual da cidade. A previsão de faturamento é de R$ 17 milhões.
Setor desenvolve a cidade
Embora não seja a principal atividade econômica de Nova Petrópolis, a produção malheira é fundamental. Como a cidade já é conhecida pelas malhas, o setor acaba não só gerando trabalho, renda e arrecadação para o município por conta das vendas do segmento, mas desenvolvendo o turismo. Com o Festimalha, o Jardim da Serra, como é conhecida Nova Petrópolis, atrai ainda mais turistas, que aproveitam para passear.
— O turista leva uma malha, fica na cidade, come — exemplifica Gilnei Mücke, secretário municipal adjunto de Turismo, Indústria e Comércio.
O entendimento da importância do setor e do evento é tão grande que a prefeitura, além de ceder o Centro de Eventos para o Festimalha, sem cobrança de taxas, dá um aporte de R$ 100 mil para a realização da feira.
— Muitos empregos dependem dessa indústria. Não tenho o dado de quanto retorna. Mas a gente percebe, por exemplo, os restaurantes lotados — destaca Claus Nelson Altevogt, secretário municipal da Fazenda.
NÚMEROS
No Festimalha
> Malharias participantes: 47
> Gastronomia: 13
> Pontos de acessórios: seis
> Área de exposição: 2,7 mil metros quadrados de área coberta
> Estimativa de público: 80 mil visitantes
Na cidade
> Malharias: cerca de 60
> 1 malharia para cada 391 habitantes
Orçamento
> O orçamento de Nova Petrópolis para 2019 é de R$ 78,760 milhões.
Tradição
> A Malhas Imperial é a única malharia que participa desde a primeira edição do Festimalha. Pela primeira vez, terão dois estandes, um da marca carro-chefe e outra da Vira e Mexe, linha infantil.
Competitividade
Manter-se no mercado é uma prova de fogo diária. E não é pela grande quantidade de malharias em Nova Petrópolis — cerca de uma para cada 391 habitantes. Para Márcio Kny, o que preocupa é o produto importado, muitas vezes fabricado em condições questionáveis, aponta ele, que chega com um preço baixo.
— É desafiador (empreender), porque é sazonal. Tem de ser disciplinado, porque vai ter altos e baixos. Não posso me iludir que um caixa de meio milhão do Festimalha, por exemplo, vai garantir o ano. Tem de ter capacidade de inovação, tem de ser competitivo _ destaca ele, que esperar crescer de 10% a 15% até dezembro.
Uma das estratégias, por exemplo, é vender nas lojas tanto as peças da Grecy (feminino) quanto da Mr. Kny (masculino):
— A mulher é fundamental na compra da roupa masculina, porque o homem sempre diz que não precisa.
Na Malhas Imperial, a aposta tem sido na diversificação de itens. A malharia tem produzido almofadas, mantas para sofá e cobertas. A empresa também testa sapatos de tricô
Um ano para esquecer
Embora o Festimalha represente somente de 2% a 3% das vendas do ano das Malhas Imperial, a feira é fundamental para a empresa porque torna a marca ainda mais conhecida e atrai consumidores para as lojas _ são três em Nova Petrópolis e duas em Gramado:
— É importante para nós porque abre para novos clientes _ ressalta Leonardo Neumann.
Por isso, o 2018 é um ano para se esquecer, segundo ele. Com a greve dos caminhoneiros na segunda quinzena de maio do ano passado, a feira foi prejudicada. O público ficou em torno de 50 mil pessoas, bem abaixo do esperado. Leonardo estima perdas em 2018 entre 18% e 20%.
"Sinto como uma família"
Elisabete Koehler tinha 23 anos quando começou a trabalhar na malharia Imperial. Começou como overloquista, função que desempenhou por 10 anos. Há 17, está no corte.
— Nunca tinha pego uma tesoura na mão — brinca.
Mesmo aposentada, continua na empresa. Se sente realizada ao ver as peças prontas. Também se sente à vontade depois de tantos anos de trabalho no mesmo local:
— Sinto como uma família. Conheço todo mundo, conheço os patrões.
A Imperial emprega 40 pessoas entre produção, administrativo e lojas.
SERVIÇO
> O quê: 30º Festimalha
> Quando: de 1º de maio a 09 de junho de 2019 (de quintas a domingos, incluindo o feriado de 1º de maio)
> Horário: das 10h às 19h
> Onde: Centro de Eventos de Nova Petrópolis
INGRESSOS
> Público geral: R$ 7
> Terceira idade: R$ 3,50 às quintas-feiras, sábados, domingos e feriados. Isento às sextas-feiras
> Excursões (acima de 10 pessoas): isento às quintas-feiras
> Excursões (acima de 30 pessoas): isento às sextas-feiras
> Excursões (de 10 a 30 pessoas): R$ 3,50 às sextas-feiras e R$ 7 aos sábados, domingos e feriados
> Crianças: isento até 10 anos e R$ 7 a partir de 11 anos
> Morador local: isento
> Estacionamento: gratuito