Os quatro anos em que Francisco Gomes Neto esteve na direção geral da Marcopolo podem não parecer tanto tempo assim para uma carreira executiva consolidada de mais de 20 anos. No entanto, foi nesse período em que a empresa enfrentou um dos seus momentos mais dramáticos: o incêndio que destruiu toda a unidade plásticos, em setembro de 2017. Enquanto que o episódio impactou diretamente na produção de uma das maiores companhias de Caxias, o fato também ressaltou a habilidade de gestão do corpo diretivo da Marcopolo e a ágil recuperação da retomada dos trabalhos.
O reconhecimento não tardou. Neste ano, Francisco foi convidado para assumir a presidência da Embraer, uma das maiores fabricantes de aviões no mundo.
E foi num “misto de tristeza e orgulho” recíproco que o executivo de 60 anos anunciou sua saída da Marcopolo neste mês. A indicação ainda precisa ser aprovada pelo conselho administrativo da Embraer, após assembleia geral marcada para o dia 22 deste mês. A confirmação deve acontecer, e assim Francisco assumirá o cargo no início do próximo mês. Ao Pioneiro, ele comentou sobre a mudança, a trajetória e o legado que criou em Caxias.
Pioneiro: Como surgiu o convite e o que lhe motivou a aceitar?
Francisco Gomes Neto: O convite surgiu da forma tradicional: uma empresa me procurou, eu já tinha vivenciado isso antes, mas nunca tive interesse. Gosto muito do meu trabalho aqui, (a Marcopolo) é uma companhia fantástica. Mas, desta vez quando ele (o interlocutor) mencionou a empresa, eu fiquei até surpreso em ser uma pessoa indicada. E foi assim que aconteceu. Depois que eu vi a empresa, o que tem pra fazer, esse desafio de retomada de crescimento (da Embraer), achei que era um desafio tão grande quanto aquele que me trouxe para Caxias em 2015.
Então enxerga como um desafio profissional?
Meus planos quando vim para Caxias eram de me aposentar aqui. O trabalho que eu faço aqui é fantástico. Sou muito feliz na Marcopolo. Mas surgiu essa proposta que é uma coisa muito maior, um passo adiante na minha carreira. Foi o que me fez brilhar os olhos.
Já vislumbra algum desafio específico na Embraer?
Olha, não sei. Realmente estou me concentrando neste mês para garantir uma transição tranquila na Marcopolo. Estou trabalhando com James Bellini (presidente do Conselho de Administração que assumirá interinamente como CEO a partir da saída de Gomes Neto) em um programa superintenso diário para repassar o que está acontecendo em cada área. Depois que acabar aqui, aí sim vou me dedicar à outra companhia para entender melhor o desafio e como vou poder contribuir.
O senhor enxerga essa mudança como uma mudança de área ou há um padrão no trabalho de gestão?
Liderar pessoas é igual em qualquer lugar, os desafios são diferentes, mas a parte de gestão tem muitas similaridades. Seguramente lá deve ter outro nível de complexidade, essa fusão envolvendo a Boeing, a nova fase de focar na aviação executiva. Mas eu não entendo desse negócio direito, vou ter que chegar lá e conversar com o pessoal e conhecer todos eles para entender e contribuir.
O que o senhor avalia da fusão com a Boeing?
Eu não sei, não tenho informações. Só começo a me inteirar quando iniciar na Embraer.
Já tem uma data para começar?
Fico na Marcopolo até 30 de abril. Então, a partir de 1º de maio, mudo para lá. Isso se eu for aprovado na reunião de conselho e na assembleia geral no dia 22.
O que não deve ser problema...
(Risos) Espero que não.
E os vínculos com Caxias? Deixa um legado? O que conquistou?
Curti muito a Serra Gaúcha. Acho que virei filho adotivo de Caxias. Aqui na Marcopolo eu acho que ensinei e aprendi. Foi uma troca bem bacana. Estou levando muita experiência e deixando também um pouco do que aprendi dos anos anteriores de trabalho.
Qual foi momento mais marcante?
O incêndio, com certeza. Nunca tinha vivenciado algo assim, ver um pedaço tão grande da fábrica destruído e em cinco dias a produção ter voltado ao normal. Uma coisa que vou levar comigo e não vou esquecer. Nosso time ficou mais forte. Vimos que se conseguimos superar aquela situação, podemos superar qualquer coisa. Hoje temos um time muito forte, muito unido e uma competência que motiva.
Como está sendo essa transição?
Foi muito tranquila. As pessoas, no geral, receberam (a confirmação da saída) num misto de orgulho e tristeza. Tristeza pela saída, mas orgulhosos que alguém da Marcopolo tenha sido indicado para uma das maiores empresas do Brasil. Foi misto de tristeza e orgulho, que também me contagiou.
O senhor enxerga como um cargo político a presidência da Embraer?
Não acho, não conheço ainda, mas olhando de fora vejo como um cargo técnico, assim como o que eu tenho aqui.
Vai manter algum vínculo em Caxias?
No trabalho, eu acho que vou promover uma integração, porque imagino que deva encontrar lá situações parecidas com o que temos aqui. Então é possível que haja uma troca de experiências. E eu, sempre que tiver oportunidade, vou manter contato com as pessoas e as empresas. Vamos ver, o futuro ninguém sabe. Só quero deixar meu agradecimento com o carinho que a cidade toda me recebeu.
Caxias vai deixar saudade?
Não tenha dúvida. Vou até levar meu telefone e deixar o mesmo prefixo. Vou lembrar todo os dias do 054. Caxias e Marcopolo entraram na minha vida, fazem parte da minha história e não saem mais.