Elir Antônio Rodrigues, 52 anos, trabalhou na Voges durante 30 anos. Ele foi um dos funcionários que aprovou a compra da Unidade da Voges Motores no final de setembro, mesmo recebendo um percentual estimado em 20% do total da rescisão. A primeira parcela deveria ser paga até o dia 31 de outubro. Mas a promessa não se concretizou e o negócio poderá até ser desfeito, caso a Justiça determine o descumprimento do plano.
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— Se isso acontecer, a transação poderá ser dissolvida. Embora esta não seja a intenção da empresa — aponta Daiane Branchini, advogada do escritório Nelson Cesa Sperotto, responsável pela administração judicial do processo.
A Voges foi adquirida pela Biehl Metalúrgica, de São Leopoldo, que ofereceu R$ 40 milhões pelo negócio. Destes, R$ 20 milhões foram destinados para o pagamento dos direitos trabalhistas. Além dos R$ 2 milhões de entrada, outras 18 parcelas de R$ 1 milhão seriam repassadas para o acerto com os trabalhadores.
Daiane explica que, entre as causas do descumprimento, está a de que a adquirente (Biehl) constatou que vários equipamentos relacionados no processo de compra, não estariam mais na unidade. Destaca, no entanto, que a empresa não desistiu do negócio e que este impasse pode ser superado.
— A Biehl apresentou uma carta fiança de R$ 2 milhões, o que pressupõe que ela tem dinheiro para pagar a primeira parcela e ainda tem interesse na aquisição do empreendimento — explica.
"Queremos depositar na conta deles", diz acionista
O advogado e acionista da empresa Biehl Metalúrgica Eduardo França assegura que não tem a mínima possibilidade do negócio ser desfeito. A carta fiança, segundo ele, é a garantia de que a empresa tem o dinheiro disponível para a primeira parcela do pagamento. Mas quer depositar diretamente na conta dos trabalhadores.
— Não queremos fazer o depósito judicial, pois não teremos a certeza de que este dinheiro vai chegar até os credores — enfatiza França.
O juiz da 3ª Vara Cível e responsável pelo processo, Clóvis Mattana Ramos, explica que a carta fiança não representa a garantia do pagamento e informa que ingressou com uma nova petição na tarde de ontem para que a empresa faça o depósito em dinheiro.
— Também tenho a preocupação de que os credores recebam o percentual negociado — ressalta.
Para isso, segundo ele, o caminho mais acertado é o depósito judicial. Está criado o impasse!
Indefinições
França confirma que outros detalhes da aquisição também não estão resolvidos. Um deles, informa, é de que ainda não foi apresentada a lista de credores e a forma como será feito o pagamento, por parte do administrador judicial.
A advogada Daiane informa que ainda há valores ilíquidos (que não foram definidos pela Justiça do Trabalho) e que, por conta disso, não há consolidação do quadro trabalhista. Ela garante, no entanto, que 90% do processo já está concluído.
Outra preocupação de França se refere às mais de 100 petições que estão em andamento na Justiça questionando a compra/venda da Voges Motores, e que poderá comprometer o processo de pagamento. França garante que a Biehl já investiu cerca de R$ 3 milhões na unidade localizada no bairro São Ciro e que os salários dos funcionários (cerca de 400) estão regularizados.
O que diz o Sindicato dos Metalúrgicos
O secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos, Leandro Angonese, aposta que o processo está na fase final e que será resolvido em breve. Diz que passou pelo menos duas semanas recolhendo dados dos ex-funcionários que que possam receber as indenizações e diz que o objetivo da entidade é beneficiar os trabalhadores para que recebam pelo menos parte dos ativos trabalhistas.
— O processo estava esgotado. Era ilusão achar que receberiam algum valor — diz Angonese.
Ele destaca que o sindicato apenas fez a a intermediação da negociação.
— Não compramos, nem vendemos nada. Só fizemos a ponte.
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A venda
A proposta de venda da Unidade de Motores da Voges foi aprovada em assembleia no dia 24 de setembro pela maioria dos credores presentes. No evento também foi apresentada a empresa compradora, com sede em São Leopoldo. Os trabalhadores aceitaram receber cerca de 20% do total dos ativos trabalhistas. O grupo Voges ingressou com pedido de recuperação judicial em junho de 2013, mas não conseguiu mais sair da crise.
Dívidas
Ao todo, as pendências trabalhistas superam os R$ 70 milhões e o processo envolve cerca de 2,5 mil trabalhadores.
Recuperação judicial
A Voges ingressou com pedido de judicial em junho de 2013. Atualmente, as duas unidades (Voges Motores e Metalcorte, junto à Maesa) empregam cerca de 400 trabalhadores.