Lavouras de pelo menos 14 municípios da Serra foram atingidas pelo temporal que ocorreu a partir da meia-noite da terça-feira (30). Os parreirais que estavam carregados de cachos de uva e com uma excelente brotação foram os mais afetados pelo granizo.
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Após granizo destruir 90% da produção de uva, Nova Pádua decreta situação de emergência
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O município de Nova Pádua decretou situação de emergência após o granizo que atingiu a cidade na madrugada desta quarta-feira (31) destruir 90% da produção de uva e 80% de outras culturas, como cebola, alho e pêssego. O número pode aumentar porque o levantamento não foi finalizado.
Monte Belo do Sul, Bento Gonçalves, Antônio Prado, Ipê, Farroupilha, Pinto Bandeira, Campestre da Serra, Bom Jesus, Monte Alegre dos Campos, Nova Roma do Sul, Nova Roma do Sul, Flores da Cunha, São Marcos e Caxias do Sul também registraram prejuízos na agricultura.
De Monte Belo a Campestre da Serra
A Emater Serra ainda está trabalhando no levantamento de dados para calcular as perdas. O engenheiro agrônomo Enio Ângelo Todeschini assegura que esta foi a maior tempestade registrada desde 2010, quando o granizo e os ventos também destruíram boa parte da produção agrícola na região. Ele explica que a área atingida pelo temporal começou no município de Monte Belo do Sul e terminou em Campestre da Serra.
Os prejuízos ainda estão sendo contabilizados. O presidente do Sindicato de Trabalhadores Agricultores Familiares, Rudimar Menegotto, informou que a chuva de granizo atingiu principalmente a localidade da 6ª Légua e os distritos de Fazenda Souza e Santa Lúcia do Piaí (neste último, as perdas de algumas culturas teriam chegado a 100%).
— Foram mais atingidas as frutas com caroço, pelo tamanho que estavam, como pêssego e ameixa, e depois a maçã e caqui. Onde chegou (o temporal), os estragos foram grandes. Isso porque a fruta está no chão ou está batida — lamenta.
Lavouras de tomate e cebola em Santa Lúcia também teriam sido atingidas. No entanto, ainda não é possível estimar o tamanho do estrago porque não se sabe a totalidade dos produtores atingidos. Menegotto explica que é necessário que a Emater faça as visitas necessárias e que os agricultores que têm seguro acionem a empresa responsável. Ele adianta que uma seguradora da região teria recebido 80 chamados durante o dia esta quarta.
— Quem tem seguro consegue amenizar um pouco, ou quando tem algum programa de amparo, com financiamento para o custeio. Mas eu atendi um produtor que não tem nada disso, perdeu tudo — relata.
Monte Alegre dos Campos
A chuva de granizo atingiu em cheio o município de Monte Alegre dos Campos, nos Campos de Cima da Serra. A pequena cidade tem a economia baseada no cultivo da uva, e o prefeito Hildebrando de Almeida (PP) estima que de 60% a 70% dos produtores tiveram perdas próximas de 100% da safra. A previsão da cidade era de uma colheita de cerca de 15 milhões de quilos nos próximos meses.
— Vamos decretar estado de emergência para proteger os produtores em relação ao seguro ou conseguir algum tipo de renegociação dos bancos para quem tem financiamento.
O decreto deve ser protocolado durante esta quinta-feira (1º). A maioria dos produtores cultiva uva bordô. Esta é a principal atividade das famílias da cidade com pouco mais de 3 mil habitantes.
Pinto Bandeira
Em Pinto Bandeira, a principal preocupação é com a produção de pêssegos. Daniel Pavan, secretário de agricultura e vice-prefeito do município, calcula que 70% da produção tenha sido atingida pela chuva de pedra.
Dos cerca de 450 produtores da fruta no município, a estimativa é de que 240 sofreram prejuízos. O pêssego, em fase de maturação, é especialmente suscetível ao granizo. A safra de 2019, prevista em mais de 18 milhões de quilos, deve ser bastante prejudicada.
— Algumas propriedades tiveram perda de 100%. A gente vai estudar algumas medidas para os produtores que terão que fazer um manejo das plantas e esperar a safra de 2020. E até lá, tem que sobreviver — aponta.
A cidade também tem produção expressiva de uvas. Pavan acredita que até 40% dos proprietários podem ter sido atingidos pela tempestade.
Até o fechamento desta edição, os impactos da chuva de granizo não haviam sido contabilizados. O Sindicato Rural da cidade recebeu relatos de perdas na fruticultura — pêssego, uva, maçã e ameixa — além de danos na lavoura de alho e batata.
O produtor rural Marcelo da Silva Nunes, 26, presenciou a tempestade no Passeio dos Varões. Por volta da 1h30min, ele diz que começou a escutar os trovões e, imediatamente, veio o granizo.
— Foram cerca de 8 minutos de tempestade, primeiro mais fino e depois mais grosso.
A propriedade da família de Nunes é dividida entre dois hectares de cultivo de alho e 16 com pomares de maçã. O alho teve perda total, assim como a parte da maçã que não tinha cobertura contra geada.
— Foi muito forte, muitos danos nas plantas, acho que vai levar alguns anos para recuperar — relata.
Como mais da metade do pomar é protegida, as frutas resistiram e o agricultor prefere não acionar o seguro e apostar na venda do produto restante.