O clima ainda era de angústia na tarde desta quinta-feira na Ceasa Serra. Nos últimos quatro dias, os boxes que vendem frutas e verduras ficaram praticamente vazios. Das cerca de 70 toneladas/dia de produtos caiu para 10 mil esta semana. Mas, aos poucos, caminhões estão chegando e as caixas coloridas começam a tomar conta do cenário. Nesta quinta-feira chegaram por lá 22 toneladas de batata e outras 22 de tomate, dois produtos que estão em falta nas gôndolas dos mercados nos últimos sete dias.
O preço também chegou mais salgado. Uma saca de batata de 50 quilos, por exemplo, que antes da greve dos caminhoneiros era vendida a R$ 70, na tarde de hoje saltou para 140. O tomate subiu R$ 70 a R$ 120 a caixa de 24 quilos. O reflexo do aumento já chegou ao bolso do consumidor. Nas gôndolas, o pouco tomate disponível está sendo vendido a cerca de R$ 10 o quilo.
Mesmo assim é difícil encontrar.
— Só recebemos a mercadoria dos caminhões que estavam retidos nos protestos — lamenta Valdir Hartman, proprietário de um box da Ceasa.
O comerciante Célio Veronese diz que, dos 40 anos que atua no local, foi a primeira vez que ficou praticamente desabastecido. Ele comercializa batata, tomate e cebola - produtos que acabaram nos primeiro dias de greve.
— Perdi três cargas e mais de R$ 200 mil — lamenta.
O gerente técnico operacional da Ceasa, Marcelo Lopes Nunes, garante que na próxima semana o abastecimento vai estar normalizado. Os prejuízos ainda não foram calculados. Informa que hoje chegaram 22 toneladas de tomate e não sobrou nada. Os mais prejudicados foram os 43 atacadistas que atuam na Ceasa e dependem de produtos que chegam de outros estados. Os 240 agricultores que comercializam no pavilhão dos produtores (pedras) quase não sentiram o impacto, pois não precisaram percorrer rodovias, informa Nunes.
Prejuízos
No box de Daniel Girelli, as vendas caíram 80% nos últimos 10 dias. Ele ainda está calculando as perdas. Os números também estão sendo somados pelo atacadista Clóvis Demori. Seu espaço ainda está praticamente vazio. O tomate, seu carro-chefe, só deve chegar na manhã desta sexta-feira. Ele vende cerca de 300 caixas por dia.
— Ainda tenho caminhões na estrada e não sei se vão chegar a tempo de conseguir vender os tomates. Sobre a greve, ele lamenta que tenha acabado sem que os impostos tenham sido reduzidos.
— O povo não se ajuda — diz.
No espaço de Marcelo Girelli, somente 30% das mercadorias estavam disponíveis. A maior parte dos produtos está vindo de São Paulo e do Nordeste. Seu carro-chefe é o melão. Ele vende cerca de sete caminhões da fruta por semana e eles ainda não chegaram a Caxias.
O mamão virou raridade nos supermercados e também na Ceasa. Ontem estava disponível em apenas duas bancas. Uma delas no box de Bruno Kransburg. Ele perdeu oito cargas da fruta e o prejuízo passa de 500 mil.
— Nunca passei por isso. Pior, a greve não valeu a pena. Foi conquistado muito pouco — diz, desolado.
No atacado Zimmermann, a quantidade de mamão que chegou foi insuficiente para atender à demanda. e a próxima carga só deve chegar no sábado.