O que falta em Caxias do Sul, Vale Real tem de sobra: áreas livres para instalar empresas. Localizado no Vale do Caí, o pequeno município de 6 mil habitantes está situado em um ponto estratégico, com rodovias que o ligam à Serra, e às regiões Metropolitana e das Hortênsias. Com uma área de 52 quilômetros quadrados, pelo menos 10 estão disponíveis para empresas que queiram se instalar por lá. E não faltam atrativos. Além dos belos cenários naturais, tem mão de obra qualificada e uma campanha de incentivos arrojada (ver quadro abaixo).
Não à toa é a cidade mais igualitária do Estado e a segunda do país – só perde para Pomerode, em Santa Catarina. A diferença entre ricos e pobres é tão pequena quanto a cidade. Por lá, os níveis de violência são baixíssimos e tem educação de sobra. Há uma década, a economia local era movida pelas olarias e uma indústria de calçados.
A partir de 2007, a produção de calçados, tijolos e cerâmica entrou em crise e outros ramos da indústria passaram a dominar no município. Com a mudança do perfil econômico, a qualificação profissional passou a ser prioridade. Dependendo da necessidade de cada empresa que aterrissa por lá, surgem novos cursos bancados pelo município. É o chamado Projeto Semear, que inclui oficinas gratuitas para a inclusão social.
Quando a fábrica de confecção fitness Dicorpo se instalou na cidade, em 2007, por meio do programa Pronatec, foram formadas dezenas de costureiras que hoje têm emprego garantido. A empresa produz entre 60 a 70 mil peças de roupas por mês e conta com 150 funcionários, 99% moradores do município.
Prontos para empreender
Vale Real não dispõe de um plano diretor e sim de uma lei de diretrizes urbanas. As áreas industriais são definidas por decreto municipal. Na comunidade de Arroio do Ouro, foi criado o parque industrial, com dezenas de terrenos disponíveis. Muitos pavilhões já estão prontos para serem alugados. De todos os tamanhos. Variam de 200 a 5 mil metros quadrados. Moradores também estão dispostos a construir em suas terras para receber novos negócios. Basta querer!
Incentivos *
- Terraplanagem gratuita
- Isenção de taxas para licenças ambientais
- Retorno de parte da parcela do ICMS
- Isenção do ITBI
- Liberação de licenças em até 20 dias
- Ajuda do poder público na negociação da área
* Lei nº 1063 de 2013 de atração de investimentos
Cerca de 1,5 mil moradores trabalham em Caxias
Atualmente, boa parte da mão de obra de Vale Real atende ao mercado caxiense. Apesar de os números mostrarem que Caxias do Sul tem mais de 25 mil desempregados, indústrias caxienses buscam trabalhadores de outras cidades.
Pelo menos 1,5 mil trabalhadores saem diariamente do pequeno município para trabalhar em grandes empresas de Caxias do Sul. Marcopolo, Randon, Pettenatti e Duroline estão entre as que mais empregam vale-realenses.
Em seu segundo mandato, o prefeito de Vale Real, Edson Kaspary (PT), destaca que o município não quer atrair trabalhadores de cidades vizinhas. E a preferência são por médias e pequenas empresas.
— Queremos que Vale Real se desenvolva, mas sem perder a qualidade de vida que temos — destaca o prefeito.
O secretário de Planejamento e Desenvolvimento, Lindomar Brito, reforça a tese.
— Nossa proposta é dar emprego para quem mora aqui. Não queremos trazer mão de obra de outros municípios — garante o secretário.
Empresas que se instalaram crescem e prosperam
Nos últimos cinco anos, pelo menos oito empresas se instalaram em vale Real. E todas prosperaram. Uma delas é a Plamex. Em 2014, a fabricante de tanques subterrâneos que armazenam diesel adquiriu uma área de 45 mil metros quadrados. Ocupou 4,2 mil para a primeira etapa do empreendimento.
A empresa é do grupo Serra Diesel e Abastecedora Fagundes, de Caxias do Sul. Antes de escolher Vale Real para sediar o negócio, o diretor Marcos Henrique Fagundes tentou viabilizar a proposta em Caxias. Encaminhou o processo na prefeitura e, um ano depois, recebeu a resposta. Negativa.
Começou um levantamento na região. Surgiram sete opções. Mas nenhuma se igualava à proposta de Vale Real. Em um mês, foram negociados os terrenos de sete diferentes proprietários. Em 60 dias, todas as licenças estavam liberadas para começar a obra.
— Venceu quem correu atrás — justifica Fagundes.
Hoje, a empresa emprega 60 trabalhadores do município e, este ano, projeta investir R$ 2 milhões em um novo pavilhão na área e abrir novas vagas de emprego.
Soluções imediatas
Os incentivos e a vontade de Vale Real também atraíram a Ramos Alimentos. Há um ano, o empresário Antenor Ramos foi abordado pelo prefeito e pelo secretário, que o provocaram para empreender no município. Apresentaram as vantagens e prometeram auxiliá-lo em tudo o que precisasse.
Antes localizada em Canoas, a estrutura física da empresa ficou pequena para o tamanho do negócio e não havia áreas maiores disponíveis. Estava em busca de alternativas.
— O maior atrativo foi o interesse da prefeitura. Me ajudaram a encontrar a localização ideal, a negociar o terreno e a construir. Me salvaram — diz o proprietário Antenor Ramos.
A empresa atua no ramo de alimentos. Com isso firmou parceria com os agricultores do município, que produzem e entregam seus alimentos para a empresa. Atualmente, a Ramos fornece para uma grande rede de supermercados cerca de 300 toneladas e frutas e verduras por mês. Emprega 20 trabalhadores diretos e mais de 200 indiretos. O faturamento ultrapassa os R$ 400 mil/mês.