Um idoso jovem, persistente e que acredita no Brasil. Assim é o empresário Carlos Candido Finimundi, o único fundador vivo da empresa caxiense Dambroz SA. Aos 96 anos, sua vitalidade e lucidez causam inveja a qualquer jovem empresário. Em 1º de agosto de 1945, juntamente com Marciano Dambroz e Severino Dal Bó (já falecidos), ele fundou a empresa que hoje emprega mais de 200 trabalhadores. Hoje, Finimundi completa 72 anos de trabalho.
Leia mais
Dall'Onder abrirá três novos hotéis até 2019 na Serra e aposta na força do mercado caxiense
Vita Frutta recebeu investimento de R$ 6 milhões em Flores da Cunha
"Nunca tivemos uma crise como esta", diz economista
Quase centenário, Finimundi segue cumprindo uma jornada diária na companhia. Dirigindo seu Corolla 2001 (inteiro e muito bem conservado), ele vai para a matriz, no bairro Sagrada Família, e fica por lá das 8h às 11h. À tarde, segue para a unidade de implementos rodoviários no De Lazzer, onde permanece até as 16h30min.
– Aos finais de semana, eu também venho, converso com os guardas, vejo alguma coisa que posso melhorar – relata.
E ele não vai até as empresas para ver o tempo passar. A primeira tarefa do dia é caminhar pela fábrica e conversar com os funcionários. Mais tarde, em sua pequena e simples sala (sem computador), ele confere as planilhas de produção (controladas por códigos) e dá sugestões ao administrador.
A receita para tanta vitalidade com quase um século de vivência? Ele montou seus sete mandamentos: construir uma boa família, manter-se saudável (boa alimentação e exercícios físicos), trabalhar, tempo para o lazer (com qualidade), conhecimento, liderança e ética.
Ahhh, ele dá um conselho para quem gosta de um drink:
–Tome bebida de boa qualidade –avisa.
Ele não abre mão de um uísque e de um bom vinho aos finais de semana. Mas precisam ser muito bem produzidos e conservados.
Pouco dinheiro, mas com muita vontade de trabalhar
Muito antes de Caxias ser considerada o segundo maior polo metalmecânico do país e de existir a Marcopolo e a Randon na cidade, Carlos Finimundi já era empresário do setor. Na época em que a Dambroz nasceu, a Eberle e a Gazola eram as únicas empresas grandes da cidade. Trabalhou na Gazola por três anos. Entrou na sociedade da empresa com o dinheiro da venda de uma bicicleta Caloy.
Finimundi atuava como torneio mecânico, mas era o mentor, o “ engenheiro” da época. Todos os produtos que a empresa produzia passava pela cabeça dele. Foi assim com as máquinas de beneficiamento de madeiras, serrarias, implementos rodoviários (cegonheiras). Também foi o mentor dos parques de diversão que a empresa produzia na década de 80. Até hoje ele preserva a capacidade de criar e adaptar. Mérito de poucos.
– Tínhamos pouco dinheiro, pouca experiência, mas muita vontade de trabalhar – lembra.
Ele acredita que as pessoas têm que administrar seu negócio pelo conhecimento, e não pelo poder.
– Também é preciso ser persistente, ter boa vontade e acreditar – destaca.
Ao longo de sete décadas, Finimundi vivenciou muitas crises e períodos conturbados da economia nacional e internacional, como a ditadura e a época da hiperinflação. Cita a morte de Getúlio Vargas, na década de 1950, como um dos piores momentos, já que a insegurança norteava os negócios do período.
– Passamos por muitas crises e elas sempre foram vencidas. Mas a que estamos vivendo agora é a pior delas. O Brasil está muito perturbado – revela.
Ele sabe que as facilidades de hoje na produção não se comparam às das décadas de 40 a 80.
– Não tínhamos faculdade. Trabalhávamos apenas com o metro. Hoje, qualquer um pode executar um projeto. A tecnologia tornou-se imprescindível.
No entanto, segundo Finimundi, três requisitos ainda são fundamentais em uma empresa: ordem, disciplina e hierarquia.
Por quê?
– A ordem faz a disciplina. A disciplina ajuda a respeitar a hierarquia. A hierarquia ajuda a comandar a empresa para ela crescer e se manter na liderança.