Ela sobreviveu às turbulências das sucessivas crises financeiras do país, adaptou-se às mudanças de moedas, se reinventou e provou que a sucessão familiar pode, sim, dar certo. Localizada no coração de Caxias do Sul, a loja Magnabosco, que testemunhou o desenvolvimento da cidade, também se transformou.
O armazém de secos e molhados virou história. Em seu lugar, mas com a mesma imponência, surgiu uma loja moderna, com um novo conceito de mercado e que atrai mais de mil pessoas por dia. Nem mesmo a chegada da acirrada concorrência dos shoppings centers abalou a tradição dessa loja genuinamente caxiense, fundada há 102 anos.
O segredo? A combinação entre localização, produto, atendimento e atualização acredita o professor do curso de Administração da FSG - Centro Universitário da Serra Gaúcha Evandro Dalpissol.
Num segmento extremamente volátil como o comércio, manter-se no mercado não é tarefa fácil. Grandes lojas como Fedrizzi, Hermes Macedo e Armarinhos Caxias, por exemplo, não sobreviveram.
O atual administrador da Magnabosco é bisneto do fundador da loja, Raimundo Magnabosco. Pedro Horn Sehbe tem 28 anos e integra a quarta geração da família. Assumiu o cargo há menos de dois anos e trouxe entusiasmo e jovialidade à loja. Tem consciência da responsabilidade de manter o negócio saudável financeiramente.
Mesmo em época de crise, a Magnabosco fatura R$ 17 milhões por ano, emprega 57 pessoas e tem um dos índices de inadimplência mais baixos do mercado: não passa de 0,9%. No comércio caxiense, o índice médio é de 3%. Nos últimos dois anos, o faturamento reduziu 25%, mas não abalou a estrutura da centenária loja.
– Nunca buscamos dinheiro em banco – enfatiza Sehbe.
A esquina que preserva laços com a comunidade
Localizado junto à Praça Dante Alighieri, o prédio onde funciona a loja Magnabosco é um símbolo. Ponto de referência, integra o complexo central da cidade onde tudo começou.
No início do século 20, as charretes estacionavam na rua Dr. Montaury para carregar tecidos e aviamentos que abasteciam os moradores do interior do município. Hoje, é difícil conseguir uma vaga para estacionar. Em frente à loja foi montado o primeiro parklet (minipraça) de Caxias.
Para Pedro Sehbe, quando esse ícone ajuda a contar a história e a fazer parte da vida das pessoas, é porque consegue perenizar um significado que transcende uma loja.
Para a professora da Faculdade de Economia da UCS Jacqueline Corá, os princípios que norteiam os valores da empresa devem ser constantes. Segundo ela, é isso que dá credibilidade à marca e a faz ser reconhecida e respeitada por tanto tempo.
– Sei que, aqui, o caxiense se sente em casa. Foi dessa forma que o nome Magnabosco criou laços que são mantidos até hoje – declara Sehbe.
Esses laços também são preservados quando o assunto são os colaboradores. A rotatividade de funcionários é baixíssima.
– Temos funcionários com mais de 40 anos de casa. Queremos que as pessoas se realizem em trabalhar aqui, que participem da vida da comunidade e que incorporem os laços que criamos. Exercitamos, diariamente, pequenos gestos, como o sorriso, por exemplo – destaca o atual administrador.
Para Jacquelide essa é uma questão muito relevante.
– A empresa deve estabelecer uma relação de longo prazo não só com os clientes, mas com os colaboradores, fornecedores, gestão pública e comunidade.