O aumento na produção de hortifrutigranjeiros está trazendo problemas para os agricultores do todo o país. Os da Serra protestaram na tarde de sexta-feira na Rota do Sol (RSC-453), em Lajeado Grande, para mostrar o descontentamento com o preço recebido pelos produtos. Em média, o quilo da cenoura, tomate, cebola e pêssego é pago entre R$ 0,30 e R$ 0,70.
Para o gerente regional da Emater, engenheiro agrônomo Ênio Todeschini, três fatores estão contribuindo para o problema: o clima favorável, o aumento da área de produção e a crise econômica.
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– O produtor esperou que se mantivesse o preço da safra passada e ampliou as áreas de produção. As pessoas têm menos dinheiro e estão comendo um pouco menos.
O gerente-técnico operacional da Ceasa/Serra, Antonio Garbin, elenca as mesmas causas para o baixo preço pago pelos hortifrúti produzidos pelos agricultores, mas ressalta que a crise econômica ainda é o principal fator.
– O pior de todos ainda é a crise. Muitas pessoas estão desempregadas e sem dinheiro. Elas estão optando por ter arroz e feijão na mesa do que as hortaliças.
Segundo Todeschini, com exceção da uva e do alho, o restante do que é produzido na Serra está com os preços baixíssimos.
– O tomate, o pêssego e a ameixa estão quase de graça. Tem produtores abandonando as plantações de tomate – conta.
Segundo Todeschini, a opção imediata para os agricultores é estocar suas safras, mas eles precisam considerar o gasto com energia elétrica.
– Nesse momento são dois pepinos e três abacaxis. Produtos muito perecíveis como o pêssego e a uva podem ser estocados por um período. Cada fruta tem a sua característica de conservação após a colheita. A estocagem é uma alternativa, mas também tem que avaliar o custo da produção de frio. É caríssimo manter uma câmara fria ligada.
Outra alternativa é a implantação de um planejamento agropecuário. Segundo o gerente regional da Emater, o governo federal deveria construir uma política de adequação de produção e consumo como ocorre em país como Estados Unidos e Canadá.
– Esse trabalho de regulação de mercado de produção e de consumo é bastante complexo, é demorado, mas não é impossível. Países do primeiro mundo já estão praticando essa medida.
Estamos reféns do mercado
Ricardo Pagno, 44 anos, é um dos milhares de agricultores da região que estão comercializando suas produções por preços irrisórios. O morador da Capela Nossa Senhora do Carmo, interior de Flores da Cunha, planta cerca de 5,5 mil pés de tomates em uma área de um hectare. A produção total deve chegar a aproximadamente 50 mil quilos.
O agricultor já contabiliza os prejuízos. Está vendendo a caixa de 20 quilos entre R$ 15 e R$ 18 e o custo de produção é de R$ 23 por caixa. Ele estima perder aproximadamente R$ 100 mil.
– Este ano estamos reféns do mercado. Não estou nem conseguindo cobrir o custo de produção.
Pagno ainda tem esperança de vender parte da safra de tomate com o preço um pouco melhor.
– Quem sabe (o preço aumente) a partir da metade ou final de fevereiro – diz o agricultor na expectativa de que o preço baixo seja temporário.
Ele reclama entre a diferença de preço que é pago para o produtor e o valor praticado nos supermercados.
– O produtor ganha entre R$ 0,75 e R$ 1 o quilo do tomate e no mercado, exceto nos dias de promoção e que a qualidade do produto é bem inferior, o consumidor paga entre R$ 4 e R$ 5 o quilo. Essa diferença está muito grande. O produtor ganha pouco e o consumidor está pagando muito caro.
Pagno também defende um controle sobre o que é produzido no país. Segundo ele, é preciso ter uma organização para saber a demanda de cada produto e quanto se planta. Dessa maneira a agricultura seria um pouco mais estável e confiável, diz o produtor
– Não podemos ter perda por causa do excesso de produção. Precisamos ter um controle – avalia.
A colheita de cebola na propriedade de Pagno terminou na tarde de sábado, porém nenhum dos 35 mil quilos produzidos foi vendido. Ele preferiu estocar toda a produção na expectativa de vender por um preço melhor.
– Tentei comercializar, mas estão pagando R$ 0,50 por quilo. Esse valor também não paga o custo da produção. Estou estocando para ver se o mercado reage e consigo um preço melhor.
Segundo Pagno, a cebola deverá permanecer estocada por até 90 dias sob o risco de perder toda a produção.