A rapidez com que o casal Aldo Ribeiro, 33 anos, e Luciane Bueno Siqueira, 30, colhe as cenouras na propriedade dos Irmãos Riva é quase a mesma com que cresce a área de terra plantada em três distritos de Caxias do Sul. Vila Oliva, Fazenda Souza e Santa Lúcia do Piaí produzem, juntos, cerca de 65 mil toneladas por ano de frutas, verduras e legumes. Isso representa 70% da produção do município, que chega a 85 mil toneladas, segundo a Emater Caxias. O ano de 2015 registrou quase 3 mil hectares plantados. Em 2014, eram 2,2 mil hectares. Crescimento de 36%.
Nesta época, por exemplo, os longos canteiros das folhas de cenoura dominam o cenário no interior de Caxias. É a safra de inverno. Na Ceasa RS, Caxias entregou, em 2015, 45 mil toneladas de produtos – 7% do que o centro recebe anualmente, que soma 567 mil toneladas. Segundo o subprefeito de Fazenda Souza, Jurandir Palandi, cerca de 60% da produção é entregue na Capital.
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Na propriedade dos Irmãos Riva, por exemplo, são colhidas 36 toneladas de cenoura e beterraba por semana. O destino é direto para o Ceasa RS. Rogério Carlos Riva e o irmão, Carlos, administram 50 hectares de área plantada – 30 de cenoura, 10 de beterraba e 7,5 de alho. O carro-chefe é a cenoura. Por ano, a produção passa de 2 mil toneladas.
Emprega oito funcionários diretos. Só não admite mais devido à alta incidência de processos trabalhistas que já enfrentou. Um ex-funcionário trabalhou cinco meses na lavoura, saiu, processou a empresa e levou mais de R$ 6 mil. Por conta disso, os irmãos pretendem, no ano que vem, investir em equipamentos de colheita dos produtos e trabalhar com menos funcionários.
– É uma saída para evitarmos tantos prejuízos. É difícil encontrar pessoas com vontade de trabalhar – revela Rogério.
Rogério Riva, 44 anos, herdou do pai o gosto pelo trabalho na terra. Há 30 anos, a família trabalhava em cinco, no máximo, seis hectares de terra. Hoje, administra uma das maiores propriedades de hortifrutigranjeiros de Caxias. Está colhendo a segunda safra de cenoura do ano. Em dezembro, terá a terceira colheita. Enquanto em uma área cenouras estão sendo colhidas, na outra, os canteiros recebem preparo para a semeadura.
Das três principais culturas que cultiva, o carro-chefe em volume é a cenoura. Mas, em faturamento, o alho responde pela maior parte do caixa. O motivo? O preço. A última safra ele vendeu a R$ 15 o quilo. Este ano espera faturar R$ 17. Se o clima colaborar, serão 300 toneladas. Isso equivale a um faturamento de mais de R$ 4 milhões. Um negócio e tanto para os dois irmãos que começaram ajudando o pai e hoje integram um dos setores mais rentáveis da economia brasileira: o da alimentação.
Braços que movem a cadeia produtiva
Os paranaenses Aldo e Luciane chegaram na propriedade dos Irmãos Riva há quatro meses. Saíram do Paraná há um ano por falta de trabalho. Em Caxias, trabalharam em Santa Lúcia e, depois, seguiram para Vila Oliva. Eles impressionam pela força braçal, energia e agilidade ao colher as cenouras. São mais rápidos que robôs.
Como eles recebem por caixa colhida (R$ 1,60), o segredo é não parar, baixar a cabeça e seguir em frente. Colhem, por dia, cerca de 150 caixas do legume. Levantar a cabeça para falar com a reportagem, nem pensar. É preciso colher, colher, colher. O rendimento mensal do casal passa de R$ 3 mil.
– Gosto deste trabalho. Não estressa e à noite dormimos que é uma beleza – ressalta o casal.
Trabalhar em empresas nem pensar.
– Aqui estamos em contato com a natureza e o sol, por enquanto, é uma bênção – diz Luciane.
Charles Moraes Vilanova, 19 anos, e Jardel Campos Andrade, 29, compartilham da mesma opinião. Ambos saíram de Sobradinho em busca de trabalho. Pararam em Vila Oliva e por lá se instalaram.
– É só ter força de vontade, que trabalho não falta – garante Vilanova.
Agricultura
Caxias produz 85 mil toneladas de hortifrutigranjeiros por ano
Deste total, 70% vêm das lavouras dos distritos de Fazenda Souza, Vila Oliva e Santa Lúcia do Piaí
Ivanete Marzzaro
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