Os sinais de retomada começam a aparecer, mas a recuperação no mercado de trabalho deve demorar mais a se caracterizar. O fechamento de vagas segue ainda em ritmo significativo: em junho, a indústria de transformação perdeu 3,7 mil vagas no Estado. Em 12 meses, o segmento fechou 51,9 mil empregos, o equivalente a 142 demissões por dia.
O reflexo do aumento da produção nos postos de trabalho vai depender de dois fatores: crescimento efetivo nas vendas da indústria, que ainda tem estoques consideráveis, e, antes disso, da retomada dos funcionários afetados pela flexibilização de jornada, como suspensão temporária do contrato de trabalho, explica o professor José Dari Krein, do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho do Instituto de Economia da Unicamp.
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– Isso não deve ocorrer em menos de 12 meses. Por enquanto, o que veremos é estabilidade no desemprego, embasada mais na troca de trabalhadores com salários mais altos por outros com remuneração mais baixa. Difícil falar em abertura de vagas. Isso, de certa forma, mascara a precarização do mercado e a perda de poder aquisitivo da população – afirma.
Um ano também é o prazo que Hugo Zattera, diretor-presidente da Agrale, prevê para novas contratações. O empresário diz que não vê recriação de empregos "no curtíssimo prazo".
– Claro que as empresas da região querem aumentar a produção, contratar. Dentro do possível, é isso que vai ocorrer. Mão de obra qualificada tem. Mas com a recuperação em ritmo incerto, fica difícil falar em contratações neste ano. Nossa meta é terminar 2017 com mesmo número de vagas que tínhamos três anos atrás – conta.
Com salários médios mais baixos do que no período anterior à crise, a indústria também deve ser menos atrativa para trabalhadores que, nesse meio tempo, migraram para o setor de serviços em busca de vagas ou foram obrigados a empreender quando ficaram sem trabalho. A jornada mais pesada nas fábricas era compensada por remunerações um pouco acima da média de mercado, o sonho da carteira assinada, lembra o economista Luciano D'Agostini, especialista em crescimento econômico e emprego.
– O dano que a crise causou na indústria é irreversível. Seja pela perda de produtividade, seja pela redução de salários ou pelo desaparecimento de empresas. Mesmo em regiões que existe mão de obra qualificada, foram dois ou três anos em que trabalhadores ficaram sem acompanhar desenvolvimento de tecnologia, e isso não se recupera em poucos meses – argumenta.
Para D'Agostini, o fato de o segmento de bens de capital ter mostrado reação mais forte do que os demais setores pode ser um sinal positivo, especialmente para o Rio Grande do Sul:
– Além de indicar aumento de produção na região, exige mão de obra especializada. A perspectiva é de que profissionais qualificados consigam reinserção mais rapidamente, claro. E como a quantidade de bons trabalhadores é limitada, isso pode levar à possibilidade de aumentos salariais no médio prazo.
A avaliação
"Sentimos uma melhora leve no último mês, mas alguns segmentos, como o metalmecânico, muito forte em Caxias, é bastante dependente da cadeia automotiva."
Nelson Sbabo, presidente do Conselho Executivo da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul
"A recuperação vai ser lenta. Mas já dá para dizer que tivemos um primeiro semestre de 2016 melhor que o segundo de 2015. Nossa perspectiva é continuar avançando até dezembro."
Carlos Bertuol, diretor da Meber, de Bento Gonçalves
"A crise afetou as empresas fornecedoras da região. Toda semana nos falta algum componente. Às vezes, somos obrigados a buscar fora do Estado ou até importar."
Hugo Domingos Zattera, diretor-presidente da Agrale
"As perspectivas do mercado de trabalho não são nada animadoras, levando em consideração as políticas de propostas de ajuste da economia na atualidade."
José Dari Krein, professor Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho do Instituto de Economia da Unicamp