O 8º Seminário Regional da Uva Orgânica que acontece hoje em São Marcos é uma prova de quanto o tema está em evidência. O encontro vai reunir 500 produtores que têm um único objetivo: produzir alimentos saudáveis.
O setor de produtos orgânicos cresceu 15% nos últimos cinco anos. Em 47 municípios da região Nordeste do Estado, 480 famílias se conscientizaram da importância de produzir corretamente e produzem orgânicos em cerca de 900 hectares de terra. Só de uva orgânica, são 500 hectares e 360 famílias envolvidas. A estimativa de produção para a próxima safra de 6 mil toneladas da fruta.
Amparados por técnicos da Emater-RS e do Centro Ecológico Ipê, os produtores avançam com segurança para este caminho. É o caso do agricultor Antônio Rossi, que mora na Linha 60, interior de Caxias do Sul. Ele é um dos pioneiros na região na produção de orgânicos. Começou em 1995, plantando batata inglesa numa pequena área da propriedade, sem nenhum tipo de agrotóxico. Hoje já conta com 10 hectares de várias culturas. Só de uva orgânica cultiva três hectares. Na próxima safra pretende colher 80 mil quilos de uva Niágara in natura.
– As plantações orgânicas são o futuro deste país. Não dá para pensar somente no retorno financeiro. É preciso se conscientizar dos valores sociais, na preservação das águas e em uma alimentação mais saudável– destaca Rossi.
O manuseio correto da terra também é tratado na novela Velho Chico, da Rede Globo. Na trama, o neto de um fazendeiro quer recuperar o solo das plantações. Por enquanto, ainda sofre com a resistência do avô.
– Nossos filhos e netos vão pagar a conta de que não está preocupado em produzir corretamente – alerta Rossi.
O experiente produtor lembra que, o investimento pode sim ser mais alto. Cerca de R$ 120 mil por hectare, incluindo a cobertura correta dos parreirais.
– O resultado pode demorar dois ou três anos, mas é garantido – assegura Rossi.
Os riscos
Se o resultado é garantido, por que muitos agricultores ainda resistem em ingressar neste ramo de agronegócio? Uma das respostas é o alto risco de perder a produção. Se uma praga resolver se impregnar na plantação, não tem o que fazer. Na produção convencional, basta aplicar um forte agrotóxico e a praga se vai. Por isso, os produtos naturais sempre vão exigir um investimento maior, como a cobertura por exemplo, que salva boa parte da produção das intempéries do clima e de fungos mais resistentes.
O manuseio correto e o aumento da mão de obra são outros cuidados que precisam entrar na conta. As ervas daninhas são retiradas manualmente, sem pesticidas. Por isso, os alimentos naturais custam, em média, 30% a mais que os convencionais. Rossi já vendeu sua uva a R$ 6 o quilo. No próximo ano, a média deve ficar em R$ 4.
– Mesmo assim é um bom negócio – afirma.
A demanda ainda é maior que a oferta no mercado. O coordenador do Centro Ecológico de Ipê, Leandro Venturini, acredita que o consumo vai crescer cada vez mais. Atualmente, segundo ele, praticamente todas as culturas, seja de frutas ou verduras, já estão sendo produzidas pelo método orgânico, mesmo que em pequena quantidade.
– Os consumidores estão mais conscientes sobre a importância de consumir um produto saudável, sem inseticidas.
Sobre o valor, cerca de 30% mais caro, ele explica:
–A logística e a mão de obra são os itens que mais encarecem o produto no final da ponta. Mesmo assim, vale a pena pagar um pouco mais.
'Aqui não entra agrotóxico'
Vanderlei Suliani, 39 anos, mora em uma propriedade de sete hectares, no interior de São Marcos. Cada palmo de terra tem produção orgânica. Apostou no negócio há pouco tempo, cerca de dois anos, mas há 15 já se interessava pelo assunto e começou a visitar propriedades orgânicas e se inteirando de como funcionava. Assim que tomou posse de suas terras (que pertenciam à família) começou a fazer cursos no Sebrae e a preparar o solo.
A primeira experiência foi com alho poró. Deu certo. Em seguida começou a transição do parreiral que já estava produzindo _ de forma convencional. Investiu na cobertura das videiras, no solo e buscou orientação com os técnicos da Emater para produzir de forma correta e sustentável. Hoje, a diversificação de alimentos tomou conta da propriedade. Uva, nozes, alho e laranjas de vários tipos dão vida e saúde aos suaves morros de onde pode-se apreciar o pôr do sol. Num pequeno recanto das terras, faz experiências com 35 pés de figos, que são fiscalizados diariamente e aguardam pela cobertura.
– A ideia é diversificar cada vez mais e produzir o ano todo. Não importa a quantidade e, sim, a qualidade – enfatiza.
E nada de venenos.
– Aqui não entra agrotóxico. Não consumimos nada que possa ter algum tido de pesticida.
30% das parreiras já estão podadas. É experimental. Se não tiver geadas fortes, provavelmente vai começar a colher uva mais cedo. Na safra passada perdeu 55% da produção por causa do frio fora de época. Na próxima, espera colher 35 toneladas de uva rosada Niágara. Enquanto o parreiral dorme, ele colhe laranjas, de muitas variedades. As geadas de maio e junho reduziram a produção pela metade. As frutas ficaram sem suco. Portanto, sem condições de serem comercializadas.
– Mesmo assim, colhi 12 toneladas. Era para ser 25.
O preço varia de R$ 2,30 a R$ 2,50 o quilo. As laranjas de umbigo, por exemplo, pesam em média 250 gramas cada. Ou seja, quatro frutas resultam em um quilo. O alho, ele pretende colher no final de setembro, e as alfaces estão quase prontas.
Resultado, entra dinheiro o ano todo. Se uma safra não vinga, a outra pode surpreender positivamente. Não é à toa que Suliani exibe, com orgulho, o Certificado de Conformidade Orgânica, concedido pela Ecovida. É o selo de garantia de qualidade de seus produtos.
O SEMINÁRIO
A oitava edição do Seminário Regional da Uva Orgânica acontece durante todo o dia de hoje no salão paroquial de São Marcos. O evento acontece a cada dois anos e em diferentes municípios e é uma parceria entre prefeitura, Emater/RS - Ascar e Centro Ecológico de Ipê.
Programação
8h: recepção e inscrições (R$ 15)
8h30min: café
9h: produção de mudas de qualidade - desafio da viticultura regional com o engenheiro agrônomo Daniel Santos Grohs (Embrapa)
9h45min: cultivo sucessivo de plantas de cobertura do solo - engenheiro agrônomo Enio Todeschini (Emater-Ascar)
10h30min: compostos biológicos na melhoria da qualidade do solo - técnico Leandro Venturin (Centro Ecológico de Ipê)
10h50min: controle biológico em videiras - avaliação de possibilidades - eng. agrônomo Marcos André Kurtz (IFRS)
11h20min: experiência local - família Guzzon - técnico agrícola Fabiano Maciel Varela (Emater-Ascar)
12h15 mim: almoço com cardápio orgânico
13h30min: tarde de campo: vinhal orgânico família Guzzon/cultivo sucessivo de plantas de cobertura do solo/aplicação e resultados dos compostos biológicos no solo/pode de outono da videira
16h: Encerramento