Estatísticas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) comprovam que a crise econômica que atinge Caxias do Sul traz consequências diretas na contratação de planos de saúde privados. Dados disponíveis no site da ANS mostram a redução de 7.380 beneficiários de planos empresariais em Caxias do Sul somente no último semestre _ queda de quase 6%. O número de pessoas físicas que cancelaram as contas é menor: 832.
Quem segue empregado, tem recebido planos mais simples e enxutos. As estatísticas mostram que no período de 2013 a 2014, as operadoras de saúde adquiriram cerca de 4 mil novas contas _aumento de mais de 2%, mostrando que o setor se revelava promissor.
O cenário atual tem lógica. Quanto menos empregados na indústria e comércio caxiense, menos usuários de planos de saúde - só em Caxias, 14.171 postos de trabalho foram fechados no ano passado. Além disso, outra situação fica clara nas empresas que precisam cortar custos. Aos colaboradores são apresentados planos com benefícios reduzidos, com menos serviços ou áreas de cobertura ou em operadoras menos conhecidas. Também podem ser convidados a coparticipar, ou seja, arcar com parte da mensalidade. É uma estratégia para evitar demissões e seguir oferecendo o benefício.
É o caso da empresa operadora logística Irapuru, de Caxias. Alterações na prestadora de serviço, na abrangência da cobertura e outros detalhes reduziram em 30% o custo mensal do pagamento aos planos de saúde. Os cerca de 1,2 mil funcionários da unidade caxiense tem agora plano regional no lugar de nacional, e em operadora com nome menos conhecido. Além da redução da folha de pagamento, que dedicava cerca de R$ 190 mil mensais somente para pagamento deste serviço, a empresa precisou rever o método porque os colaboradores, que já bancavam 50% do valor mensal, passaram a renunciar o benefício.
- A desistência se mostrou alta, pois não valia mais a pena para o funcionário pagar tudo aquilo. Aos poucos, se tornou impagável porque a faixa etária da nossa equipe é alta e os reajustes só cresciam. Estamos mais tranquilos agora - explica a coordenadora de RH, Márcia Vargas.
Este jogo de cintura pode ser conferido cada vez mais nas empresas da Serra Gaúcha, garante o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), Getúlio Fonseca. Ele explica que, além do custo expressivo - empresas ligadas ao Simecs desembolsaram pelo menos R$ 450 milhões em benefício no ano passado, a qualidade do atendimento das operadoras deixa muito a desejar, incentivando a troca:
- Há operadoras menores chegando com força no mercado, atraindo mais empresas. Além disso, o funcionário não se importa se o plano de saúde for modificado, desde que possa garantir o emprego dele.
O que dizem as operadoras
:: Se as empresas demitem, nossa demanda reage da mesma maneira. Quase todas as empresas nos chamaram para negociar, mudar a modalidade, a cobertura. Isto se intensificou no segundo semestre de 2015. Dividimos a nossa oferta em três produtos: os que não podem pagar o plano, os que querem investir menos e os que podem pagar tudo. Para cada situação, apresentamos uma proposta, o que tem surtido efeito. Fernanda Onzi, coordenadora do plano de Saúde do Círculo Operário Caxiense.
:: Fechamos o ano com crescimento de 15% já que conseguimos conta de uma grande empresa da cidade - fechamos 2015 com cerca de 5 mil usuários a mais. É fruto deste grande movimento de troca. As empresas que tem dificuldade de pagamento tem conseguido renegociar com as operadoras. Em contas privadas, identificamos queda de cerca de 1%, o que não se mostra significativo diante deste cenário. Roberto Zottis, diretor geral do plano Fátima Saúde.
:: Diversos fatores estão encarecendo o preço do plano de saúde, o preço do dólar é um deles, já que os suprimentos são adquiridos nesta moeda. Neste momento de retração econômica, no imediatismo de cortar despesas, há empresas que enxergam o plano como um custo, e não benefício, então acontecem os cortes. Temos tentado tornar os planos mais acessíveis, oferecer outras alternativas. Sentimos que contas individuais, que são geralmente planos familiares, tem até aumentado, porque há demitidos que se tornam autônomos e se preocupam com a manutenção do plano. Mas também há muitos beneficiários que foram transferidos para outras regiões. Por exemplo: passam a ser atendidos por planos de Porto Alegre. Assim, não deixaram de ter Unimed, somente estão na base de outra singular. Carlos Corá, superintendente da Unimed Nordeste.
Trabalhador pode seguir no plano após demissão
Diante do cenário de desemprego brasileiro, a Agência Nacional de Saúde (ANS) elaborou uma cartilha com informações importantes para manutenção do plano nos casos de demissão sem justa causa. Ele poderá permanecer no plano o equivalente a 1/3 do tempo total de pagamento, sendo o mínimo de seis meses e o máximo de dois. Para quem tiver mais de 10 anos de empresa e for demitido sem justa causa ou sair devido à aposentadoria poderá permanecer com o plano por tempo indeterminado ou enquanto a empresa mantiver o plano para os empregados ativos. Ao optar pela permanência no plano de sua empresa, o ex-empregado deverá assumir integralmente o pagamento.
Isto ocorre se ele contribuiu mensalmente para o pagamento do plano de saúde contratado, a partir de 1999. Quando o empregador arca integralmente o plano de saúde, o demitido não tem este direito. Outras informações podem ser acessadas no site da ANS pelo link www.ans.gov.br.
AS PERDAS
:: Foram 8.212 beneficiários a menos nos últimos seis meses. Em junho de 2015, eram 270.251 usuários, contra os 262.039 de dezembro.
:: A perda mais significativa é relacionada aos planos empresariais: dos 8212 clientes que deixaram as operadoras de saúde, 7.380 eram ligados a planos de saúde. Apenas 832 são usuários individuais.
:: A perda é ainda maior quando avaliada nos últimos 10 anos: eram 192.551 em 2010, contra os 182.694 do fim de 2015.