O posto caxiense de maior produtor de hortifrutigranjeiros do Estado vem sendo ameaçado. O interior da cidade - palco de desenvolvimento de tantas frutas, verduras e hortaliças - vê a migração para a cidade e a falta de mão de obra que isso acarreta se intensificarem cada vez mais. O problema é tão preocupante que lideranças agrícolas já estimam que metade das propriedades rurais não vislumbra sucessores em Caxias.
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Dados do último censo comprovam a tendência: das 4.948 famílias que moram no interior da cidade, 1.739 (o que representa 35%) são compostas por apenas duas pessoas no domicílio. O restante do grupo, normalmente os filhos, migrou para a área urbana. Na outra ponta, apenas 458 propriedades (menos de 10%) contam com cinco pessoas ou mais no domicílio, o que mostra que aquela visão de família grande do interior que trabalha na agricultura está mesmo em extinção.
Rudimar Menegotto, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias, lembra ainda que uma pesquisa da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag) apontou que 35% das propriedade rurais gaúchas não terão sucessores e 15% não sabem se alguém irá assumir:
- Se esse levantamento fosse realizado somente em Caxias, seria pior ainda, porque temos visto que até mais de 50% não têm certeza do futuro da propriedade - alerta.
Uma alternativa para amenizar esse cenário preocupante, porém, vem ganhando força: trata-se da Escola Família Agrícola da Serra Gaúcha (Efaserra). Destinada exclusivamente a jovens que vivem no interior, a instituição começou a atuar na região em 2013, em Garibaldi. Desde o início do ano, passou a ser sediada na 3ª Légua, em Caxias do Sul.
Na escola, que está com inscrições abertas para o próximo ano, os estudantes cursam o Ensino Médio juntamente com o técnico em agropecuária. O principal diferencial da instituição é a chamada Pedagogia da Alternância, já que os alunos passam uma semana direto na escola, com atividades nos três turnos, e outra em casa, aplicando o que aprenderam.
- Com essa metodologia, os alunos trazem demandas que existem na propriedade rural e então criamos soluções na escola. Assim, a educação é pautada na reflexão sobre a realidade dos estudantes - relata Letícia Trentin, monitora da Efaserra.
Atualmente, a instituição conta com 37 alunos que residem em nove municípios da região (Carlos Barbosa, Boa Vista do Sul, Barão, Coronel Pilar, Garibaldi, Bento Gonçalves, Farroupilha, Caxias do Sul e Ipê). A expectativa para 2016 é atingir a marca de 60 estudantes inscritos.
ENSINO AGRÍCOLA
:: Inscrições para a Escola Família Agrícola da Serra (Efaserra): até dia 11 de dezembro
:: Documentação necessária: certidão de nascimento ou casamento (cópia), uma foto 3x4, CPF (cópia), RG (cópia) e Talão do Produtor ou DAP
:: Condições para ingresso na escola: ter concluído o Ensino Fundamental; ser filho de agricultor ou ter interesse pela atividade agropecuária; e residir em meio rural ou ter propriedade rural para a realização das atividades práticas
:: Valor: cada aluno custa, para a instituição, cerca de R$ 1,5 mil ao mês. Porém, a escola é comunitária e conta com diversas parcerias e ações, o que subsidia parte da mensalidade. Atualmente, as famílias precisam arcar com 20% desse valor (R$ 300 mensais), o que pode diminuir se mais arrecadações forem concretizadas
:: Duração: Três anos de curso + seis meses de estágio
:: Contato: (54) 3013.4499 e 3026.8522
Agricultura ameaçada
Metade das propriedades rurais de Caxias não tem sucessor definido
Dificuldades e falta de perspectivas no campo fazem jovens migrarem para a cidade
Ana Demoliner
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