Presidente em exercício do Sindicato dos Metalúrgicos, Luiz Carlos Ferreira refuta a ideia de crise que é enfatizada pelo Simecs, entidade que representa os empresários. Na manhã desta segunda-feira, a terceira rodada de negociações sobre a campanha salarial 2014 dos metalúrgicos de Caxias do Sul e região se encerrou sem acordo. A entidade patronal oferece aumento de 6,08%, enquanto o sindicato dos trabalhadores reivindica aumento de 13,5%.
Para Luizão, como o presidente é conhecido, as empresas inventaram a crise para enfraquecer a luta sindical e têm condições de conceder o que a categoria reivindica. Confira abaixo trechos da entrevista concedida pelo sindicalista:
Pioneiro: Com base em que indícios o senhor afirma que a crise foi inventada?
Luiz Carlos Ferreira, o Luizão: A nossa data-base (data em que os sindicatos negociam condições de trabalho) é 1º de junho. Então, pega todo o segundo semestre do ano passado. A gente já citou várias vezes a evolução (do setor), e agora tem mais esse pacote de ajuda do governo federal. Já tinha ajuda do governo na questão da desoneração da folha de pagamento, da taxa de energia. O governo empresta dinheiro para ser pago em 15 anos, com juro baixíssimo, para as empresas e ainda compra o produto delas. Um exemplo é o ônibus do Caminho da Escola (programa do governo federal que incentiva a renovação da frota de veículos escolares). É ajuda do governo para manter o emprego. E o empresário de Caxias cada vez mais bate recorde em cima de recorde. Que crise é essa?
Pioneiro: O sindicato não teme que o índice solicitado na campanha salarial comprometa a manutenção dos empregos do setor, já que Caxias teve em abril a pior geração de vagas dos últimos cinco anos?
Luizão: Em hipótese alguma. Não compromete. Porque a lucratividade das empresas foi muito grande de 1º de junho do ano passado para cá. Mesmo agora estão tendo lucratividade enorme. E quem é que constrói essa lucratividade? Quem transforma a matéria-prima em produto e gera lucro para as empresas? É o trabalhador.
Pioneiro: Como os trabalhadores enxergam o cenário econômico atual e as previsões?
Luizão: Eles estão dentro da fábrica todo dia produzindo. Eles veem com os próprios olhos as empresas fazendo serão em excesso. Pra quê? Para poder criar crise. De que forma? Faz serão, antecipa a produção, faz estoque e depois pode dar férias, pode inventar flexibilização da jornada de trabalho porque tem estoque.
Pioneiro: O ano eleitoral interfere nas negociações da campanha salarial, já que alguns dirigentes da entidade estão licenciados para concorrer (o presidente, Assis Melo, do PCdoB, se licenciou para concorrer à reeleição para a Câmara dos Deputados, e o vice, Leandro Velho, também se licenciou e concorre a uma vaga no legislativo estadual pelo mesmo partido) ?
Luizão: Não interfere pelo seguinte: a política partidária é uma, a política sindical é outra. O nosso presidente se licenciou para concorrer a deputado federal para a gente ter representante em Brasília que se preocupe com a luta dos trabalhadores. Porque o Assis não participa mais do sindicato. Quem está conduzindo a dinâmica é a gente que está à frente. O nosso vice também se licenciou para concorrer a deputado estadual. Para efeitos de negociação não influi em nada, porque eles não estão participando de nada.