O crítico britânico Steven Spurrier é famoso no mundo do vinho por descobrir locais com vocação enológica. Em 1976, conduziu uma degustação que confrontou rótulos norte-americanos e franceses e, pela primeira vez, provou que era possível elaborar produtos de alta qualidade fora da Europa. Até hoje, esse dia é lembrado como Julgamento de Paris, e até virou tema de filme. Nesta sexta-feira, ele esteve em São Paulo e ajudou a expor o potencial de outra jovem indústria vinícola: o Brasil.
O evento Panorama dos Espumantes do Hemisfério Sul, que colocou lado a lado garrafas dos principais países produtores abaixo da linha do Equador, não tinha intenção de gerar um ranking. Mas quando perguntados sobre seus favoritos, os jurados colocaram dois brasileiros entre os três mais recomendados nas duas categorias avaliadas.
- Na elaboração de espumantes, o Brasil é o melhor entre os produtores da América do Sul. E essa é a região onde mais está acontecendo novidades no mundo do vinho. O evento provou que o Brasil está à frente da Argentina e do Chile neste segmento - concluiu Spurrier ao final do evento.
Foram analisados 21 rótulos elaborados pelos métodos Charmat (duas fermentações em tanque, normalmente gerando espumantes mais leves) e Tradicional (primeira fermentação em tanque e a segunda em garrafa, o que dá origem a produtos complexos). As amostras mostraram uma tendência curiosa: espumantes Charmat buscavam maior concentração de aromas, enquanto os de método Tradicional eram mais ligeiros.
Em ambas as classificações, o país que completou as preferências dos jurados foi a Nova Zelândia. Suas vagas foram conquistadas com vinhos de perfil bastante técnico, com traços muito marcantes da passagem de tempo em garrafa. As escolhas, por se afastarem da percepção padrão de qualidade do consumidor médio, acabaram gerando questionamentos entre o público que assistia a degustação e debate entre os próprios avaliadores.
O dia também serviu para discutir o mercado internacional de espumantes e as perspectivas para as vinícolas brasileiras no segmento.
- Não procurávamos fazer o Julgamento de São Paulo. Mas foi fascinante ver tantas opiniões diferentes e ver que o Brasil se saiu tão bem - disse Spurrier.
:: A DEGUSTAÇÃO
Foram avaliados espumantes de: África do Sul, Argentina, Austrália, Brasil, Chile e Nova Zelândia
:: CRITÉRIO DE ESCOLHA
Rótulos importados disponíveis no mercado de São Paulo e indicados pelas representações institucionais dos países produtores; rótulos brasileiros escolhidos por Steven Spurrier (método Tradicional) e Marco Lucki (método Charmat)
:: OS PREFERIDOS DOS JURADOS
Método Charmat
Sparkling Brut Sileni, Sileni Estate - Nova Zelândia (R$ 101,90)
Giacomin Brut, Giacomin - Brasil (R$ 23)
Cordelier Brut, Fante - Brasil (R$ 35)
Método Tradicional
Miolo Millesime, Vinícola Miolo - Brasil (R$ 90)
Miru Miru, Hunter's Wines - Nova Zelândia (R$ 116,93)
Casa Valduga 130, Casa Valduga - Brasil (R$ 80)
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