Em outros lugares é possível que ele passasse despercebido. Numa feira de vinhos, porém, o crítico Steven Spurrier tem tratamento de celebridade. Idealizador do Julgamento de Paris (degustação que em 1976 confrontou produtos norte-americanos e franceses, abrindo as portas do mercado para rótulos feitos fora da Europa), ele esteve na última quinta-feira na ExpoVinis Brasil degustando exemplares das vinícolas brasileiras. Nesta sexta-feira ele conduz, também em São Paulo, um painel focado em espumantes elaborados no Hemisfério Sul.
Sua história já foi tema de filme (O Julgamento de Paris, de 2008), e entre pedidos de fotos, entrevistas e muitas ofertas de taças, ele conversou com o Pioneiro sobre a vitivinicultura nacional.
Pioneiro: Qual sua história com os vinhos brasileiros?
Steven Spurrier: Estive no país pela primeira vez em 2005 para esta feira. Voltei em 2013 para passar o Ano Novo no Rio, e aproveitei para ir à Serra Gaúcha e conhecer o maior número de vinhos que podia. Os vinhos são bastante europeus no estilo, vão bem com comida e atendem as pessoas que gostam de beber. A hora do Brasil chegou na Europa.
Pioneiro: Você acha que os vinhos brasileiros podem se transformar em uma moda no mercado?
Spurrier: Será por um curto período, por conta da Copa do Mundo e a Olimpíada. Mas sendo algo novo, é preciso manter a qualidade. Nos bares que servem vinho, as pessoas pedirão por tinto brasileiro ou branco brasileiro, sem se preocupar com os detalhes. Os consumidores querem degustar produtos locais, e se todos estão falando de Brasil, irão atrás dos vinhos. Os vinhos daqui representam melhor o sentimento de brasilidade do que a própria gastronomia brasileira.
Pioneiro: Onde você posicionaria o vinho brasileiro no mapa internacional? O país tem condições de se tornar um dos grandes?
Spurrier: Vocês têm sorte de estar na América do Sul. É o assunto do momento. Mas ser um grande produtor depende muito da capacidade de elaboração. Gosto muito dos vinhos. Os Chardonnays, os Tannats e, claro, os espumantes. Há alguns anos, não se encontrava vinho brasileiro no Exterior. Hoje, qualquer carta respeitável tem um ou dois rótulos daqui.
Pioneiro: A repercussão do Julgamento de Paris de 1976 o sobrecarrega de alguma forma?
Spurrier: É algo pelo qual sempre serei lembrado. Há vezes em que pode ser um pouco chato, mas como diz minha mulher: quantas pessoas podem se orgulhar de ter criado um evento histórico?
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Celebridade enológica
"Os vinhos daqui representam melhor o sentimento de brasilidade do que a própria gastronomia", afirma Spurrier
Crítico inglês de vinhos esteve na ExpoVinis Brasil na última quinta-feira para degustar exemplares das vinícolas brasileiras
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