A primeira explicação que o pesquisador chileno Humberto Prieto dá sobre o trabalho que desenvolve no Instituto Nacional de Investigaciones Agropecuarias (INIA), da Universidade do Chile, em Santiago, é que pretende colocar uma placa com a palavra "Transgênico" no portão que cerca o parreiral para que as crianças que vivem nas redondezas parem de roubar as uvas que servem para experimentações genéticas. No local, há 12 hectares de plantação de uva de mesa Thompson Seedless, um deles, de frutas transgênicas.
O experimento iniciou-se em 2000, subsidiado pelo governo do Chile em parceria com empresas privadas. A ideia não é produzir frutas para comercialização no Chile, já que o país ainda não possui legislação para produção de produtos transgênicos, e sim uma estratégia de negócios principalmente com os Estados Unidos, principal produtor de transgenia do mundo. Hoje, o INIA trabalha com dois polos, a Cornell University, em Nova York, e a University of California.
- O que estamos fazendo é basicamente transferir tecnologia - explica Prieto.
A modificação genética torna a espécie de uva resistente a dois tipos de fungo que atacam as videiras chilenas, Uncinula necator, cuja doença é o Oídeo, e Botrytis cinerea, cuja doença é Prodidão Cinzenta.
- O tema é quanto os produtores gastam no controle da Botritys e do Oídio, gastam milhões e a quantidade de químicos é muito grande, anos após ano - justifica o pesquisador.
Os fungos trabalhados pelo INIA são propensos em regiões de clima seco como o Chile, cujas chuvas alcançam de 350 a 400 milímetros anuais. No Rio Grande do Sul, o nível pluvial alcança 1700 milímetros por ano, o que faz com que o Oídeo e o Botritys não sejam as principais doenças que atacam as videiras da Serra gaúcha.
De acordo com o pesquisador em fitopatologia e chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, Lucas Garrido, a principal forma de manejo é por meio de fungicidas, com pelo menos três aplicação durante a safra.
Ele explica que a região não aposta em transgenia para o cultivo da uva porque os problemas não são tão relevantes a ponto de investir em pesquisas com modificação genética. Além disso, ainda há resistência mundial em relação ao consumo de transgênicos, principalmente na Europa, onde é proibida.
*A jornalista viajou a Santiago do Chile a convite do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB).
Transgênicos
Instituto chileno desenvolve pesquisa com uvas de mesa geneticamente modificadas e resistentes a fungos
Em Caxias e região a principal forma de manejo dos parreirais é por meio de fungicidas
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