O setor do comércio é o terceiro em Caxias do Sul em acidentes de trabalho, atrás da indústria metalúrgica e da construção civil. Aparentemente inofensivo à saúde do trabalhador, o comércio registrou duas mortes em 2013, o que era raro de acontecer em anos anteriores.
Até 13 de dezembro, foram contabilizados 698 acidentes no ramo. Os números preocupam o presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Caxias (Sindicomerciários), Silvio Luiz Frasson. Como não é evidente, o perigo costuma ser subestimado. Prova disso é o descomprometimento das empresas com relação à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa).
Ele constatou que, quando existem, as Cipas não são atuantes em muitos dos estabelecimentos. Há cerca de seis meses, a entidade criou um departamento para cuidar desse assunto e contratou uma técnica em segurança de trabalho para atuar junto às empresas.
A intenção é ajudar na implantação das comissões. Em visitas em 70 empresas, o sindicato constatou que 30 delas tinham Cipa constituída. Porém, em mais de 90% dos casos, não funcionavam na prática.
- Muitas vezes o pessoal cria Cipa só porque é obrigatório, porque a lei exige. O interesse nosso é que elas sejam criadas, mas que sejam atuantes e não existam só no papel, que se preocupem com a questão do acidente de trabalho, que verifiquem os riscos existentes - comenta Frasson.
No início de novembro, um seminário discutiu a questão com cerca de 150 cipeiros. Uma cartilha com 55 páginas, destinada a empregados do comércio, foi distribuída. No material, constam informações sobre segurança, normas regulamentadoras que tratam do tema e primeiros socorros.
Supermercados e açougues, em razão dos instrumentos de corte, são ambientes do setor em que há maior recorrência de acidentes. Funcionários também podem se ferir ao carregar mercadorias e ao subir escadas para acessar prateleiras.
- Existe uma subestimação ao perigo. Mas isso acontece porque falta treinamento. As empresas não têm, como deveriam ter, um programa de prevenção de riscos ambientais, contra acidentes de trabalho, e não têm Cipa que funcione. As Cipas são só de brincadeira - critica o procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT), Ricardo Garcia.
A fiscalização deverá ser intensificada. Porém, como fiscalizar esse setor e constatar problemas não é tarefa fácil, a intenção é investir mais na conscientização.
- O comércio é muito pior que a construção civil para a gente fiscalizar. Na construção civil, a gente passa na rua e vê o que acontece. No comércio, é muito amplo, tem desde o comércio de remédios, material de construção, de máquinas, é muito mais complicado. Por isso que a nossa ideia é fazer ações na área da divulgação e da conscientização. Nossa ideia, para esse setor, é aumentar a fiscalização, mas principalmente fazer mais campanhas educativas, de fortalecimento das Cipas - justifica o gerente do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em Caxias do Sul, Vanius Corte.
Uma das mortes no ano passado foi da subgerente da Panificadora Rio Branco, Ana Paula Espíndula Leite, 23 anos, que morreu prensada por um elevador de serviço do estabelecimento, localizado na esquina das ruas Bento Gonçalves e Guia Lopes, no Centro, dia 14 de maio.
A outra foi de Gelio Rodrigues Amaral, 41 anos, que perdeu a vida enquanto operava uma empilhadeira no bairro Planalto. Ele carregava madeiras. A máquina virou e caiu sobre ele, no meio da Rua Angelo Fortunato Dalle Molle, quase em frente à empresa de materiais de construção Peretto. No momento, o homem trabalhava para a loja de materiais de construção. Ele era funcionário de outra empresa, mas prestava serviço à Peretto sem registro formal. Amaral era casado e tinha um filho. O acidente foi dia 19 de novembro de 2013.
Prevenção
Acidentes de trabalho no comércio preocupam em Caxias do Sul
Mortes no setor são raras. Porém, no ano passado, duas pessoas perderam a vida enquanto trabalhavam
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