Como praticamente a metade da massa trabalhadora da cidade pertence à indústria, setor que conta com um piso salarial superior a R$ 900, a ideia que muitos têm é de que pouquíssimos caxienses recebem apenas um salário mínimo mensalmente. O limitador do comércio, que emprega outros 25 mil funcionários, também fortalece essa teoria, já que gira em torno dos R$ 800. A realidade, porém, traz números bem chocantes sobre essa falsa impressão: 4.909 famílias vivem (ou sobrevivem?) na cidade apenas com um salário mínimo ou menos ao mês. Somadas aos outros 3.396 grupos familiares que não possuem nenhum rendimento oficial, 5,6% dos domicílios caxienses são sustentados por até R$ 678 por mês - valor que deve subir para R$ 722,90 em janeiro de 2014.
A matemática utilizada por essas famílias para sobreviver é um mistério. O salário mínimo do trabalhador brasileiro em agosto deveria ter sido de R$ 2.685,47 para atender todas as necessidades básicas e familiares, conforme pesquisa divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) nesta semana.
Em Caxias, a projeção ganha força: a cesta básica, por exemplo, custa R$ 602,11, pelos cálculos do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Embora nem todos os 47 produtos que compõem o rancho são indispensáveis para a sobrevivência - até porque estão incluídos artigos como cerveja e cigarro -, o valor mostra como o salário mínimo é uma afronta à dignidade humana.
Uma das famílias que está nessa situação é a de Luzia Rodrigues da Silva, 33 anos, que tem quatro filhos. Em média, a diarista ganha por mês R$ 480 para fazer faxina em três lugares. Além do valor conquistado com o trabalho, recebe cerca de R$ 190 do Bolsa Família e, eventualmente, R$ 200 de pensão do antigo marido.
O valor, que já é limitadíssimo para a sobrevivência de Luzia, Sidy Davyd, 15, Samuel, 11, Larissa, 6, e Dandara Rhayane, 1 ano e dois meses, não chega a um salário mínimo se for descontado o que é gasto com transporte. Para cada faxina da diarista, normalmente são pegos dois ônibus de ida e dois de volta. Samuel, que estuda longe de casa, acaba gastando também cerca de R$ 100 com o transporte.
- Minha prioridade é sempre pagar as contas e comprar o que é extremamente necessário para eles (os filhos). Nem me lembro quando foi a última vez que comprei alguma coisa pra mim - conta Luzia.
Alimentação, uniformes e material escolar são as prioridades da família, aponta a diarista. Embora raras, Luzia também conta com doações em alguns meses.
A diarista, que mora em uma casa na Vila Sapo, no bairro Serrano, gostaria de poder trabalhar em um emprego fixo ou então aumentar o número de faxinas por semana. Dessa forma, a renda mensal alcançaria números um pouco mais aceitáveis. Para fazer isso, porém, Luzia encontra um empecilho: com quem deixar Dandara. Atualmente, quando sai para trabalhar, a diarista deixa a menina com uma vizinha que cobra R$ 15 por turno.
- Acabaria não compensando e ela (a vizinha) nem teria disponibilidade. O ideal seria eu arrumar uma vaga nas creches do município, mas não estou conseguindo - lamenta.
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