Na tentativa de controlar a inflação galopante no país na década de 1980, o então presidente da República José Sarney lançou na época sucessivos pacotes econômicos. Um dos mais significativos foi o Plano Cruzado, que além de determinar um aumento do salário mínimo, incluía também um congelamento de preços. Para garantir que os valores de fato não subissem, criou-se um clima de monitoramento na população. Os chamados "fiscais do Sarney" chegavam a dar queixa na polícia quando encontravam produtos com valores abusivos.
Embora a inflação tenha voltado outras vezes após essa fiscalização, o hábito de monitorar as variações de preços foi adotado por vários brasileiros. O técnico em telecomunicação Elton Pacheco Fernandes, 40 anos, por exemplo, controla de perto os valores do súper constantemente. Nas últimas semanas, ele tem redobrado a atenção para ver se percebe alguma baixa significativa após o anúncio do governo federal de que a cesta básica diminuiria:
- Não notei nenhuma queda. Os produtos que ficaram mais baratos nessas últimas semanas são somente os que estão em promoção, mas no dia seguinte eles já voltam ao normal.
>> Confira a tabela com a comparação dos preços
A constatação de Fernandes também foi observada pelo Pioneiro. Desde que a medida federal foi anunciada, seis rodadas de pesquisa foram realizadas em cinco supermercados da cidade. O levantamento, que monitorou 74 produtos, teve como objetivo permitir que o consumidor acompanhasse se os preços estavam baixando gradativamente como o esperado ou não. A pesquisa de forma alguma pretende mostrar qual estabelecimento possui os valores mais baratos, até porque nem sempre os itens pesquisados eram iguais.
Na rodada desta sexta-feira, sete produtos apresentaram valores mais baixos do que a última pesquisa e seis itens subiram de valor. Em relação ao primeiro levantamento, realizado no dia 11, 31 produtos baratearam, seis ficaram mais caros e 37 se mantiveram. Vale lembrar, porém, que a baixa estimada pelo governo era de cerca de 6% e, se isso for levado em consideração, apenas 23 itens monitorados (ou seja, 31%) atingiram os valores projetados pelo governo federal nos últimos quinze dias.
Nas próximas semanas, os impactos da redução poderão ser medidos de forma ainda mais completa, já que o Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ipes) da UCS divulga mensalmente o preço do rancho caxiense. Roberto Birch Gonçalves, diretor do Ipes, destaca que não há nenhum motivo para a cesta não ficar mais barata.
- Embora alguns produtos tenham certa sazonalidade, a desoneração foi superior a qualquer outro fator. A cesta básica só não baixará se houver algum conflito ético que impeça o repasse para o consumidor - acredita.
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