Um relatório da Comissão Interestadual da Uva aponta que o preço mínimo da fruta deveria aumentar 25% nesta safra somente para cobrir os custos de produção. Para que o custo e o valor de venda se equiparassem, o governo deveria ajustar o valor do quilo da variedade isabel para R$ 0,65 o quilo. Depois de peregrinar por gabinetes de autoridades federais, a Comissão pretende se reunir na próxima semana com cooperativas vinícolas para discutir o assunto. Quem bate o martelo sobre o preço é o Conselho Monetário Nacional, após a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e os ministérios da Agricultura e da Fazenda avalizarem os valores. A expectativa é que o anúncio saia no final deste mês ou de dezembro.
Nas safras de 2007 a 2010, o valor mínimo ficou congelado em R$ 0,46. A justificativa era de que o estoque de passagem de vinhos, sucos e espumantes estava elevado, exercendo uma pressão de baixa sobre os preços recebidos pelos produtores. Na última safra, o valor subiu para R$ 0,52, anunciado três dias antes do segundo turno das eleições presidenciais. O aumento de 13% foi comemorado pelos agricultores, embora que a estimativa de custo de produção à época fosse de R$ 0,59.
Conforme o presidente da Comissão Interestadual da Uva, Olir Schiavenin, nesta safra, a mão-de-obra e os insumos subiram, em média, 9,64%.
- Queremos conversar com a indústria. Pela trajetória, sabemos que o aumento é mais político. O ideal seria termos um acordo entre produtores e cooperativas. Se o governo arbitrar um preço pode provocar descontentamento de uma das partes. Então, estamos trabalhando para encontrar um ponto de equilíbrio - diz Schiavenin.
Enquanto os produtores de uva lutam para que o custo de produção seja ressarcido, os fabricantes de vinho são taxativos ao afirmar que não terão condições de absorver um aumento na matéria-prima.
Um dos motivos é o alto estoque de vinho nas vinícolas gaúchas, que somam mais de 300 milhões de litro. A ampla oferta de rótulos nacionais nas gôndolas, aliada ao ingresso de produtos importados, faz com que o preço despenque.
- O mercado está muito ruim. Está muito difícil. Os estoques estão altos é difícil repassar custos. O preço da uva terá de ser mantido. Não há espaço para reajustar a uva este ano. Se analisarmos o mercado, não cabe aumento - define Darci Dani, diretor executivo da Associação Gaúcha de Vinicultores (Agavi).
O dirigente salienta, porém, que as negociações não avançaram. Mas já antecipa que o cenário não é promissor para valorizar o produtor da fruta.
- Já teve pequenas empresas no ano passado que deixar de fazer vinho e venderam a uva para outras empresas. Se você analisar bem o setor, é difícil não pensar: vamos parar de produzir porque vamos quebrar - salienta, ao dizer que um vinho varietal argentino custa menos na gôndola do que um comum produzido aqui com uvas isabel e bordô.
Economia
Preço da uva deveria ser 25% maior nesta safra para cobrir custos de produção
Valor mínimo chegaria a R$ 0,65 o quilo da fruta
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