As duas estreias da semana na Sala de Cinema Ulysses Geremia, em Caxias do Sul, podem suscitar uma sensível e terna relação que aproxima Brasil e França. Pelo menos na projeção dos filmes em tela grande. Não se aproximam pela estética, tampouco pelas realidades sociais, menos ainda pela trama.
O que revela brasileiros e franceses sob uma mesma perspectiva, a partir dos filmes E a Festa Continua, do diretor marselhês Robert Guédiguian, e A Filha do Palhaço, do cearense Pedro Diógenes, é o reconhecimento de que o amor e a paixão são capazes de retomar o vigor e o encanto pela vida. E que nunca é tarde demais para recomeçar.
“E a Festa Continua”
A política sob o prisma das transformações sociais é o pano de fundo do filme E a Festa Continua, do cineasta francês Robert Guédiguian (de As Neves do Kilimanjaro). Rosa (Ariane Ascaride) é a matriarca de uma grande família e a alma da comunidade no bairro operário da antiga Marselha. Próxima da aposentadoria e sem muitas perspectivas, ela cede à inércia e ao desencanto. Contudo, ao conhecer Henri (Jean-Pierre Darroussin), um senhor de fala mansa e olhar sereno, esse convívio acaba estimulando o início de uma relação que evoca em Rosa um novo frescor, reascendendo seu vigor, não apenas pela vida, mas também pelo desafio de concorrer à prefeitura de Marselha. Cena à cena, Guédiguian vai ajustando a lente de sua câmera, ora para focar nas questões sociais, ora para permitir um mergulho na alma dos personagens.
Sessões de quinta à domingo, às 19h30min.
“A Filha do Palhaço”
O diálogo a seguir apresenta de forma direta o conflito central do filme A Filha do Palhaço, do cineasta cearense Pedro Diógenes:
— Meu pai deixou de falar comigo quando descobriu que eu não era exatamente do jeito que ele queria — diz Renato, à sua filha, em cena à beira-mar.
— Às vezes, os pais também são diferentes do que a gente quer — complementa Joana.
Renato (Démick Lopes) é um artista. No palco, quando encena suas performances como a personagem Silvanelly, ele brilha. Fora de cena, Renato tenta sobreviver. Esse marasmo é quebrado com a chegada de Joana (Lis Sutter), que resolve passar uma semana com o pai. A partir desse reencontro, o filme revela a tentativa deles em reatar a relação, apresentando com sutileza a versão deste pai (e que podem ser de muitos pais) que abandonou sua filha.
Estreia quarta-feira (12), às 19h30min. De quinta a domingo, às 17h.