Quem disse que a História está sacramentada? Quem disse que não se pode discutir a vida dos deuses, deusas e mitos? Tudo é discutível e confrontável. Mas, se mesmo assim, em algum momento da narrativa terráquea algum ser humano, dotado de poderes extremos, resolvesse banir a revisão histórica do mapa, caberia aos poetas romperem com a ordem estabelecida.
Felizmente, vivemos em um tempo de revisões e ressignificações que abrem caminho para provocações poéticas do quilate de Ilíada(s), livro escrito por Homera, heterônimo da poeta caxiense Ana Júlia Poletto. A sessão de lançamento, aliás, ocorre sábado (16), a partir das 18h, no Zarabatana Café (que sempre nos brinda com uma belíssima trilha sonora).
Homera abre, provocativa, a sua versão do épico poema que versa sobre a Guerra de Troia com uma pergunta ácida e irônica: “Alguém, algum dia, perguntou a Helena o que ela realmente queria?”. De cara, somos levados a reconhecer que não, ninguém perguntou o que ela realmente queria. A partir daí, Homera puxa o fio do novelo, desconstruindo o mito, entre versos bem-humorados, excertos de criticidade histórica e uma boa dose de sarcasmo.
Um a um, os personagens do épico poema atribuído a Homero, são revistos por Ana Júlia (ou seria Homera?) e revelados por uma nova faceta: “Helena até gostava de Menelau. Ele só não era bom de cama”. Na página 22, a autora escreve: “Atena começou a usar testosterona ainda durante a guerra: se sentiu bélica e poderosa”. Ou ainda, “Dioniso frequentava o AA de tempos em tempos” e “Crono, o deus do tempo não tinha tempo para nada”.
Ler Ilíada(s) é como ser conduzido por uma viagem poética, por terra e mar, com escala no Olimpo, com direito a espiadinhas pelas frestas, porque é no secreto que a vida se revela – sejamos espartanos ou troianos. Até porque, nos revela Homera: “No fim das contas, Helena não era de Troia nem de Menelau ou Páris. Helena para sempre foi de Afrodite, a deusa ciumenta que não soube amar”.
"Hera, a deusa rabugenta: conta-se que nunca sorriu. Pudera, era casada com Zeus! 'El Caído', como era conhecido entre deusas e humanas"
PROGRAME-SE
- O quê: lançamento do livro de poemas Ilíada (s), de Homera (Editora Libertinagem), seguido de bate-papo com as escritoras Ana Júlia Poletto, Biba Coelho e Lara Klinger.
- Quando: sábado (16), às 18h.
- Onde: Zarabatana Café (Centro de Cultura Ordovás - Rua Luiz Antunes, 312).
- Quanto: o preço do livro no lançamento é de R$ 50. Depois estará disponível no site oficial da editora.