Na contramão do movimento de mulheres que optam por tirar as próteses de silicone, a DJ e tatuadora caxiense Sabrina Boing Boing viralizou nas redes sociais após anunciar que realizaria o sonho de colocar três litros de silicone em cada seio — totalizando seis litros. Com isso, tornou-se portadora de um dos maiores seios do mundo.
Em um post nas redes sociais, explicou que o motivo da intervenção foi a retirada de próteses antigas, que tinham rompido: "A maioria das pessoas se prende no tamanho das próteses, 3 litros , mas nem aumentou tanto! Eu já tinha 2 litros e tinha pele! Pra mim o que mais importa foi a retirada da prótese velha rompida, que contaminava meu corpo todos os dias!" escreveu Sabrina.
Além do silicone, a influenciadora ainda fez lipoaspiração, modelação de quadril e enxerto de gordura nos glúteos, além de jato de argoplasma, uma tecnologia que promete acabar com a flacidez.
O caso de Sabrina é "fora da curva", como explica o cirurgião-plástico Anderson Ingracio, que atende em Caxias do Sul. Hoje, o movimento de mulheres que tiram os implantes ou optam por tamanhos menores, com aspecto mais natural, tem se intensificado.
— Hoje em dia, a gente fala de anatomia da paciente. Outra coisa que a gente leva em consideração é fase de vida que a paciente se encontra, se é o primeiro implante ou não, se tem alguma doença... O que a gente usa para escolher o tamanho da prótese são medidas anatômicas. Tem um lugarzinho que cada paciente tem para colocação da prótese e a gente tem, cada vez mais, respeitado isso — afirma.
Portanto, quando a mulher chega com um desejo que pode ser prejudicial no futuro, o médico deve explicar o que pode acontecer e quais os riscos de uma prótese tão grande.
— Quando não se respeita a anatomia, vão ter variações ao longo do tempo. Eu falo para todas as pacientes que a gente não opera a mama, a gente opera a paciente. É um conjunto, como a paciente vai evoluir ao longo da vida, como o corpo dela vai responder... Quando a gente foge muito do anatômico, tem a possibilidade maior de ter algum problema — destaca Anderson.
De acordo com o médico, os problemas para a saúde da mulher, gerados pelo excesso de peso no silicone vão desde caimento excessivo da mama, dor na mama, estrias na pele até as dores nas costas.
— Começa com uma dor muscular, cansaço maior... Isso pode evoluir com alteração de coluna, alteração de tendão... O remédio para isso é diminuição de tamanho, tanto para quem nasce com uma mama muito grande ou para quem usou uma prótese muito grande, que não não condiz com a anatomia — pontua.
A visão do próprio corpo no pós-operatório
O resultado da cirurgia, no entanto, causou à influenciadora um quadro depressivo pós-operatório. Nos stories do Instagram, Sabrina Boing Boing dividiu com os seguidores que, ainda no hospital, já estava arrependida da cirurgia e não conseguia se olhar no espelho. Esse quadro depressivo pós-operatório ocorreu com a influenciadora, mas também é comum entre as mulheres que se submetem às cirurgias estéticas.
De acordo com a psicóloga Thaís Gaspari, como o Brasil está no pódio dos países que mais fazem cirurgias plásticas no mundo, o tema deveria ser considerado como saúde pública.
— A coisa toda está tão normalizada que acabamos esquecendo que continua sendo uma cirurgia, e toda cirurgia tem seus riscos, inclusive de vida. A mulher precisa estar bem ciente dos riscos que corre e para quem, de fato, é essa mudança estética. Em busca de alcançar esse padrão de beleza que a sociedade nos impõe, muitas mulheres se endividam, caem em golpes e até mesmo perdem a vida. Tudo isso precisa ser posto em pauta antes da decisão sobre a cirurgia ser tomada. A mulher precisa entender o que faz sentido pra ela, enquanto ser único e individual — explica.
Entender o que faz sentido para cada uma é um dos pontos de reflexão que o médico Anderson Ingracio propõe às pacientes. Afinal, depois da mudança no corpo, algumas atividades, como trabalho e descanso podem mudar:
— A gente está num momento de amadurecimento da cirurgia de mama. A paciente também já enxerga isso. Ela já se enxerga, também, no futuro, onde é que a mama maior pode incomodar: no exercício, na vida pessoal, na vida laboral...
Por isso, refletir sobre o que faz sentido e quais os efeitos de um processo tão intenso ao corpo ainda é uma das melhores opções às mulheres que têm dúvidas sobre as mudanças que querem para próprio corpo, defende a psicóloga.
— As redes sociais atualmente têm uma dupla função dentro deste tema: ao mesmo tempo que expõem e disseminam esses padrões estéticos, também existe lugar para esses grupos de aceitação, resistência e militância. Vale tentar entender um pouco mais sobre esse outro lado da moeda também, que faz com que a gente abra os nossos olhos e consiga ser gratas ao corpo que nós já possuímos. Por vezes imperfeito, mas com saúde e único no mundo. Isso faz com que a gente lembre que foi esse corpo que tanto queremos modificar que nos trouxe até aqui — reflete Thaís.