Depois de uma manhã ensolarada, a chuva e a instabilidade predominaram durante a tarde deste domingo (4), em Caxias do Sul. Mas nada, nem mesmo o clima, impediu que cerca de 100 pessoas ocupassem a Rua Os Dezoito do Forte para a realização da 2ª Marcha do Orgulho Trans. Os pedidos por respeito, inserção e visibilidade da comunidade LGBTQIA+ ecoaram no centro da segunda maior cidade do Estado. O evento é organizado e financiando integralmente pela ONG Construindo Igualdade, e os participantes marcham "pelo direito de existir e resistir".
Ao som de músicas como Man! I Feel Like a Woman, da cantora Shania Twain, a marcha foi liderada pela primeira mulher trans a ser empossada vereadora em Caxias, Cleo Araújo, que também é diretora da ONG Construindo Igualdade. Ela esteve ao lado da artista, educadora social e Miss RS Diversidade Yan Scherer.
Com gritos de "vidas trans importam" e "vai começar o traviarcado", elas comandaram o grupo que saiu da área central da cidade rumo ao Largo da Estação Férrea, no bairro São Pelegrino.
— Nós estamos aqui num ato de protesto e de resistência, uma manifestação pacífica contra a transfobia, mostrando para Caxias do Sul que nós podemos ocupar todos os lugares, que nós temos conteúdo a apresentar, que nós temos inteligência, temos vez, temos voz, temos um propósito. As pessoas estão acostumadas a nos ver com um estereótipo negativo, pejorativo, e estamos aqui mostrando que temos existência e resistência. Temos pessoas de todos os gêneros e identificações nos apoiando, porque não estamos sós — declarou Yan, na abertura do evento.
Ambulatório trans segue na pauta de solicitações
Antes da caminhada, os participantes receberam giz de cera para rabiscar mensagens no asfalto. Sempre enfatizando que o giz sai com a chuva, os manifestantes deixaram recados como "viva o amor", "por uma nação solidária sem preconceito" e "vamos transformar essa cidade".
Também, logo antes de partir em direção à Estação Férrea, Cleo entregou aos vereadores presentes — Lucas Caregnato (PT) e Rose Frigeri (PT) —, e para a Secretária da Cultura, Cristina Nora Calcagnotto, um manifesto contra a transfobia. Para a deputada federal Denise Pessôa (PT), Cleo entregou ainda um dossiê da violência contra a população trans em Caxias e região. Para a diretora da ONG e organizadora da marcha, é preciso chamar a atenção do poder público para o tema.
— Organizar essa movimentação desperta as autoridades para que pensem políticas públicas para nós, estamos aqui para construir uma Caxias para todo mundo, e nós estamos nessa Caxias. Não podemos mais morar aqui sem termos mais políticas públicas. Não temos ambulatório trans — pontua Cleo.
Presente durante toda a marcha, a secretária Cristina destacou a importância de eventos como esse para darem visibilidade a "relevantes questões sociais que integram nossa sociedade".
— Caxias é diversa. O respeito, a igualdade e a segurança devem imperar no convívio social. A marcha clama por direitos e busca também alcançar uma maior proteção ao público — disse.
A 2ª Marcha Trans ocorre seis dias após o Dia Nacional da Visibilidade Trans, comemorado na última segunda-feira (29). A data lembra os 20 anos do lançamento da campanha "Travesti e Respeito" do Programa Nacional de DST/Aids, ligado ao Ministério da Saúde. Desde então, o período entre o final de janeiro e o início de fevereiro promove reflexões sobre cidadania de travestis, transexuais e não binárias.
Bloco Arco-Íris
A ONG Construindo Igualdade se dedica ao ativismo pelos direitos da comunidade LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais/transgêneros, queer, intersexo, assexuais).
A entidade organiza o Bloco Arco-Íris, marcado para sai às ruas na próxima terça-feira (13). A partir das 14h até as 20h, os foliões se reunirão no Largo da Estação Férrea, no bairro São Pelegrino. Para quem quiser curtir a festa em camarotes, os abadás do bloco estão sendo vendidos de forma presencial na Artezanalle Arte LGBTQIA+, Level Cult, Reffugio e Don Uller Brewning. Os kits custam R$ 100.