“Ali foi o primeiro passo, eu vi que o racismo estava presente, porque haviam clubes para brancos e clubes para pretos”, diz Vilson Farias, advogado pelotense, nos primeiros minutos do documentário Meu Chão – Clubes Negros do Rio Grande do Sul. E logo mais à frente, a historiadora Giane Vargas revela que aqui no Estado haviam 57 clubes sociais negros. “O que isso demonstra? Demonstra que a segregação no Sul ela era muito frequente. E essa segregação fez com que a resistência fosse ainda maior”.
Esse é o preâmbulo do documentário produzido pela TranseLab, com direção do realizador audiovisual e DJ Jorge de Jesus e, Geslline Giovana Braga, doutora em Antropologia Social pela USP. O filme, cuja sessão comentada ocorre nesta quarta-feira (22), às 19h30min, na Sala de Cinema Ulysses Geremia, foi realizado entre janeiro e julho de 2021, na safra gaúcha dos editais da Lei Aldir Blanc, e cumpriu um itinerário por regiões do Estado que tiveram seus horizontes simbólicos fortemente demarcados pelos “clubes negros”, expressão presente na memória e na fala de entrevistados do filme.
— Com o tempo, aconteceu uma total identificação com os personagens, pois ali encontro minha mãe nas falas de mulheres que foram rainhas, presidentes de clube ou simplesmente tiveram alguma participação, lembro que minha mãe era da Ala das Baianas, da escola de samba Incríveis do Ritmo e o meu padrasto era ritmista e, na época, eu os assistia nas escadarias da Catedral — revela o caxiense Jorge de Jesus.
Por conta disso, explica o diretor, até o nome do documentário acabou mudando. Inicialmente, seria Ao Sul da Cor.
— Como todos os encontros e as entrevistas, o nome do filme virou Meu Chão, porque era exatamente onde eu estava pisando. Aquilo sempre foi o que eu vivi, no meu chão. E pensar nessa construção da narrativa, da edição, foi me deixando mais seguro, porque estava no meu chão.
Devido à crise da covid-19, a abordagem estética da produção oscilou entre registros presenciais e online, nas cidades de Pelotas, Jaguarão, Porto Alegre, Caxias do Sul, Bagé, Uruguaiana e Santa Maria.
Além dos registros das pessoas e dos sítios urbanos dos clubes negros, o documentário traz ainda, como camada estética, intervenções da artista negra Mitti Mendonça sobre fotografias e acervos visuais pesquisados, em técnicas de bordado, costura, corte e colagem de fotos e ilustrações.
Agende-se
- O quê: Sessão comentada do filme “Meu Chão – Clubes Negros do Rio Grande do Sul”, com direção de Jorge de Jesus e Geslline Giovana Braga, e produção da TranseLab. Participam do debate, além de Jorge de Jesus, Elvino Santos (diretoria do Clube Gaúcho), Jussara Quadros (entrevistada no documentário) e Antônio Jorge da Cunha (presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra).
- Quando: Quarta-feira (22), às 19h30min.
- Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia (Centro de Cultura Ordovás).
- Quanto: Entrada franca.