Apesar de ser relativamente recente (foi criado em 2011), o Bloco da Velha já pode ser considerado o Carnaval de rua mais tradicional de Caxias do Sul. Ontem o bloco fez jus a essa tradição, voltando a reunir dezenas de milhares de foliões que, nos últimos dois anos, sentiram falta das marchinhas, do samba e do axé tocados ao vivo pela competente e animada Banda da Velha, sob o comando do cantor Dan Ferretti. A organização estima em cerca de 50 mil pessoas o público total ao longo do dia.
Ocupando pelo menos quatro quarteirões da Rua Dom José Barea, a festa começou logo na primeira hora da tarde, sob o comando no palco do DJ Mono. Alternando pagodes clássicos, sambas de todas as épocas e algumas pérolas do funk e da música pop, foi o “esquenta” para atração principal subir ao palco às 16h, fazendo ressoar pelo bairro Exposição o hino do bloco seguido de “Ó Abre Alas”. A banda ainda contou com a companhia de uma intérprete de libras durante toda a apresentação, além de participações de dançarinos e da icônica Bastiana, personagem criada pelo ator e diretor Davi de Souza.
E se o Carnaval foi marcado por reencontros dos foliões com a alegria das ruas, também teve quem só agora teve a chance de conhecer a festa mais popular do Brasil. É o caso de boa parte das seis crianças que foram curtir o Bloco da Velha com as amigas Denise Spiandorello, 45, e Roberta Moreira, 40, ambas frequentadoras assíduas da festa.
- A gente que gosta muito de Carnaval sentia bastante falta, mas também sentia pena das crianças que durante a pandemia ainda não tinham tido a chance de conhecer essa festa que é tão bonita. A expectativa delas estava tão grande quanto a nossa - diz Denise, mãe das meninas Amanda, 10, e Bianca, 7.
Se no palco o show ficou por conta da banda e do grupo de danças Mixturado, fora dele a atração foram as fantasias, assim como as plaquinhas presas com frases divertidas e ousadas, muitas vezes ajudando também a indicar se o folião está solteiro ou acompanhado. Mas também teve quem fez sua plaquinha apenas para distribuir ‘Abraços Grátis”, como o Thiago Mattos, 38 anos, morador de Vacaria.
- Não é só no Carnaval, acho que todos os dias qualquer pessoa merece um abraço grátis. Eu nunca tinha vindo no bloco e estou achando as pessoas muito receptivas e alegres, entrando na brincadeira. Já distribui muitos abraços - brincou, pouco antes de abraçar mais duas desconhecidas.
Também estreante no Carnaval de rua de Caxias do Sul, Hamilton de Silva Lima conhece muito bem a festa. Baiano de Salvador, porém morador da Caxias do Sul há três anos, o eletricista de manutenção se surpreendeu com o tamanho da aglomeração provocada pelo Bloco da Velha, e também pela proposta:
- Nunca tinha visto um Carnaval desse porte ser feito com palco, como se fosse um show. Sou mais acostumado com os trios elétricos nas avenidas, que é uma tradição na Bahia, enquanto os palcos ficam mais nos bairros. Mas também achei muito legal a festa aqui, com a bandinha tocando um repertório de marchinhas, mais parecido com o que era antigamente. Eu gosto mais de forró, de arrocha, de axé, mas estou me divertindo muito. Não sabia que a galera aqui também gostava tanto de Carnaval.
Para o próximo ano, em que o bloco terá sua 12ª edição, uma novidade foi revelada no palco: a banda irá ganhar a companhia de uma bateria, que já está recebendo contato de interessados em participar. A folia, que já é grande, só deverá aumentar.
O Bloco da Velha 2023 é uma realização da Livraria Do Arco da Velha e tem recursos financiados via Lei de Incentivo à Cultura (LIC) estadual, por meio do Pró-Cultura RS, e da Lei de Incentivo à Cultura de Caxias do Sul.