Devido a complicações que sua mãe teve no parto, Isabel Varriale Damian poderia ter nascido com uma série de deficiências físicas ou mentais. Mesmo saudável e sem qualquer comorbidade, desde criança a porto-alegrense radicada em Otávio Rocha, interior de Flores da Cunha, desenvolveu maior empatia por pessoas com deficiência.
– Quando eu era criança as mães de meninos e meninas deficientes me chamavam pra ir brincar com seus filhos, porque sabiam que eu me sentia à vontade e gostava de estar perto deles – conta Isabel.
O cuidado e a preocupação com os que mais precisam fizeram Isabel escolher pela Pedagogia e trabalhar como professora e intérprete de Libras, além de atender a domicílio famílias de crianças com autismo. Há 12 anos nessa atividade, percebeu o quanto a sociedade ainda tem dificuldade para aceitar as diferenças, mesmo quando isso se dá de forma quase inconsciente, como um comportamento automatizado. Experimentou isso mais recentemente ao lançar uma série de livros infantis com acessibilidade para cegos (braile e narração em português e inglês) e surdos (datilologia, o alfabeto manual de Libras), e que trazem como protagonistas personagens que carregam consigo sua forma diferente de estar e interagir com o mundo, como uma princesa surda e um príncipe cego.
– Muitas vezes, quando ofereço o livro, as pessoas dizem que eu deveria levá-lo a entidades que trabalham com PCDs, como se as histórias deles não pudessem interessar ao público em geral. O que eu busco é que as pessoas sejam valorizadas pelo que são: pessoas capazes de contribuir e de estar inseridas no mundo – comenta a pedagoga.
Para Isabel, a literatura infantil é um caminho importante para que, especialmente as futuras gerações, naturalizem a valorização positiva das pessoas com deficiência ou qualquer diferença:
– Todo mundo já sabe que as leis existem, que tal palavra errada pode gerar um processo, mas (a literatura) é sobre mostrar que a pessoa com deficiência pode somar com a sociedade, e que para isso precisa ter uma forma mais prazerosa, mais lúdica, delas serem inseridas do que pela frieza das leis, como uma imposição – explica Isabel, que atualmente está trabalhando também como intérprete do comitê organizador da 24ª Surdolimpíadas, em Caxias.
Publicados com recursos próprios e de forma independente, após a recusa de diversas editoras, os livros de Isabel, Mãos Mágicas, Meu Amigo Com Autismo e “Bambini Italiani” (este também com narração no dialeto talian), contam com ilustrações de Luan Zuchi e Filipe Furian.
Os exemplares podem ser adquiridos em Caxias, na UCS Livraria e na Do Arco da Velha, e em Flores da Cunha, nas livrarias Almanaque Cultural e Anny e Cia. Também é possível comprar direto com a autora, em contato pelo WhatsApp: (54) 9 9669-4612.