O intitulado Manifesto Vivência Artística Queer (MVAQ) introduz o que pretendem os 19 colaboradores da AnarcoQueer, exposição que começa hoje, em Caxias do Sul. Logo nas primeiras frases, o texto declara: "seja o que você quiser ser, da forma que quiser ser. Não tenha medo de soar agressivo". O Dia Internacional Contra a LGBTfobia marca o início da mostra, que segue até julho reunindo obras de linguagens diversas criadas a partir da livre expressão de artistas LGBT+ da cidade.
— A proposta é justamente dizer que somos um grupo LGBT, independente, produzimos arte e estamos aqui — afirma o artista plástico Rafael Dambros, que é um dos participantes, ao lado de nomes como Adriana Antunes, Christian de Lima, Charles Frutas, Darlan Gebing, Julia Webber, Márcie Vieira, Marina Luísa Almeida, Volnei Canônica, entre outros.
Desenho, bordado, pintura, colagem e fotografia, audiovisual, performance, palavras, sons e corpos dão forma ao projeto aprovado pelo Edital Criação e Formação Diversidade das Culturas, realizado com recursos da Lei Aldir Blanc. A ação nasce de um grupo criado no WhatsApp, ainda no final de 2020. Sempre aberto a novos participantes, ele reúne hoje cerca de 30 artistas LGBTs de Caxias e região.
— Observamos que todas as discussões que acontecem são norteadas por homens, héteros, brancos... Sentimos a necessidade de estar na pauta, de formar essa rede de apoio, diálogo e divulgação dos nossos trabalhos. Quando surgiu o edital, achamos que seria uma boa oportunidade de organizar essa exposição — comenta Dambros.
Sem curadoria, em uma organização horizontal, integram a mostra obras direta e indiretamente relacionadas às questões de gênero, criadas por artistas renomados da cidade, assim como, pelos que há pouco tempo colocam suas criações no mundo, levantando diferentes bandeiras dentro de um mesmo movimento.
Autodenominado "artivista" indígena da etnia Charrúa, Patrick Oderiê registra suas vivências e memórias por meio de uma animação que também integra a programação da mostra. Além disso, junto de Guigo Dedecek, ele criou a Anaporu, personagem que representa o projeto, inspirada no Abapuru antropofágico de Tarsila do Amaral.
— Quando desenhei essa entidade quis trazer uma "corpa" fora do padrão, distorcida aos olhos patriarcais que muitas vezes nos colocam como alienígenas, quando na verdade somos o contrário. Indígena é antônimo de alienígena, é parte da Terra. Anapuru é uma expressão plural que naturalmente faz parte desse lugar, como todes nós — afirma Oderiê.
As obras físicas ficarão expostas no Reffugio Bar, com visitação aberta ao público conforme o regramento vigente em relação à pandemia. Exibições e interações virtuais também fazem parte da programação. A abertura será exclusivamente online, com performances e uma música, inspirada no manifesto do grupo, apresentados a partir das 19h, no Instagram e YouTube da AnarcoQueer.
Uma das performances previstas para o primeiro dia da mostra é a da artista Márcie Vieira. O trabalho audiovisual totalmente autoral tem roteiro baseado no texto Tripa, que também é assinado por Márcie e integra a coletânea Escrevivências, publicada pela Editora Monstra a partir de uma oficina da 4ª Semana da Visibilidade Trans.
— Nesta mostra eu trago o trabalho em outra linguagem e meu objetivo é dialogar com as pessoas trans, travestis, que estejam assistindo e possam se ver protagonizadas, representadas. Quero mostrar outros lugares, outras histórias possíveis para estes corpos — afirma Márcie.
Ela celebra a exposição que reúne artistas LGBT+ e o fato de, pela primeira vez, atuar ao lado de outras duas mulheres trans em um projeto.
— Isso diz muito. Ainda não consigo dizer como vai ser porque é muito novo, uma experiência que rompe com várias lógicas e algo extremamente necessário — completa.
Colaboram com a Anarco Queer:
- Adriana Antunes
- Bruna Turmina
- Bruno Eder
- Carine PAnigaz
- Charles Frutas
- Christian DE lima
- Darlan Gebing
- Guigo Dedecek
- Julia Webber
- Ketlin de Lima
- Lucas Freitas
- Márcie Vieira
- Maria Lilith
- Marina Luisa Almeida
- Mel Gonçalves
- Patrick Oderiê
- Rafael Dambros
- Samuel Pereira
- Volnei Canônica
Serviço
- O quê: exposição "AnarcoQueer".
- Quando: abertura nesta segunda-feira (17), às 19h. A mostra segue até julho.
- Onde: no Reffugio Bar (Rua Marechal Floriano, 1.083), associada a exibições online nos perfis @anarco.queer no Instagram e YouTube.
- Quanto: acesso gratuito.