Em 2021 completam-se 50 anos da publicação Por que não houve grandes mulheres artistas?, assinada pela historiadora de arte americana Linda Nochlin. Conhecido como um dos principais textos a se debruçar sobre a falta de visibilidade das mulheres na história da arte, o trabalho continua reverberando em discussões atuais. Em Caxias, a curadora e professora do curso de Artes Visuais da UCS Silvana Boone tem se dedicado a pesquisas relacionadas ao tema. Recentemente, ela encabeçou o projeto O papel da mulher na construção da identidade para as Artes Visuais em Caxias do Sul e região, que ganha desdobramento visual por meio da exposição 2021 Contemporâneas. Com abertura marcada para esta sexta (14), na Galeria de Artes do Centro de Cultura Ordovás, a mostra reforça a maciça presença feminina na criação artística local. O recorte foi feito dentro do Acervo Municipal de Artes Plásticas (Amarp).
— Quando criei o projeto, a questão foi justamente a constatação que eu já tinha de que boa parte da produção artística da nossa região também é feminina, não necessariamente feminista. Para montar a exposição, a ideia foi priorizar as artistas que ainda estão produzindo — explica Silvana.
Essa representatividade se dá por meio das 21 artistas que compõem a mostra. São mulheres de diferentes gerações, com diferentes formações, donas de diferentes linguagens. Entre as veteranas do grupo estão Rita Brugger, 92 anos, e Odilza Michelon, 83 — ambas continuam produzindo arte. A curadora explica que a palavra "contemporânea" no título da mostra não se refere necessariamente ao estilo de arte que o espectador encontrará por lá.
— A ideia do contemporâneo passa pela questão do movimento, de elas estarem ativas, de estarem produzindo. Algumas, claro, com teor mais crítico — pondera Silvana, citando linguagens utilizadas por artistas participantes como Verlu Macke, Andressa Cantergiani e Márciah Casal, por exemplo.
Além das artistas já citadas, a mostra conta ainda com participação de Aline Chaves, Beatriz Balen Susin, Carine Panigaz, Clara Koppe, Elisa Zattera, Flávia Tronca, Glaucis de Morais, Heloisa Corrêa, Jane de Bhoni, Mádia Bertolucci, Mara de Carli, Mara Galvani, Maria do Carmo Verdi, Natália Bianchi, Rosali Plentz e Vivi Pasqual. Além de demonstrar a forte presença das mulheres no acervo do Amarp — assinam mais de 90% das obras —, 2021 Contemporâneas também demonstra a diversidade de caminhos artísticos encabeçados por elas. Há desenho, pintura, aquarela, gravura, escultura, impressão digital, fotografia e performance.
— Claro, isso é só um pedacinho, mas que a gente possa mostrar que essa produção existe e dar uma visibilidade maior a essas mulheres que são do nosso acervo — justifica Silvana.
A ideia da mostra em Caxias também se conecta ao texto de Linda Nochlin, lançado há 50 anos. A proposta se alinha à ideia de que a criação das mulheres precisa ser vista e conhecida.
— O texto aponta que a história da arte nunca considerou uma mulher artista como gênia. E por que não houve essas gênias? Porque elas não foram historiadas — conclui a curadora.
PROGRAME-SE
- O quê: exposição 2021 Contemporâneas, com obras do Amarp
- Onde: Galeria de Arte do Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312)
- Quando: visitação de 14 de maio a 13 de junho
- Quanto: entrada franca
Mais uma exposição, também nesta sexta
No mesmo dia da abertura de 2021 Contemporâneas, o Centro de Cultura Ordovás também recebe a exposição Mutabilis, com obras do artista Roger Monteiro. O projeto é composto por duas séries gráficas assinadas pelo artista: Bestiário (2015) e Deus Ex (2019). São 17 imagens que refletem o conceito estético-filosófico da mutabilidade e propõem narrativa sobre os seres que habitam em nós, seja como auto representação, seja como projeção. Roger trabalha com a intervenção digital em fotografias originais e apropriações.
A exposição pode ser visitada até o dia 13 de junho, na Sala de Exposições do Ordovás. Também é possível conferir por meio da plataforma online da Unidade de Artes Visuais, por meio do link. No dia 8 de junho, às 19h, ocorre uma oficina gratuita com o artista. Roger falará sobre a visão geral da cultura da remixagem e da ressignificação de símbolos e do espaço digital no cenário da arte. Interessados devem realizar sua inscrição através da UAV DIGITAL até o dia 7 de junho. A atividade é gratuita e ocorre via Google Meet.