Esqueça a dificuldade de uma jogada, de uma partida ou de um campeonato. Superar desafios e combater suas missões é a parte primordial das entidades esportivas, atletas e dirigentes. Se o esporte tem uma dificuldade, ela está no planejamento a longo prazo. Tentar desvendar como será um ano que recém nasce é complicado, mas olhar para um período de uma década é uma missão para derrubar qualquer babalorixá.
Quando a década que se encerrou em 2020 começou, Caxias e Juventude dividiam sentimentos diferentes em um Campeonato Brasileiro da Série C. Enquanto grenás tentavam desesperadamente deixar a Terceira Divisão, o Papo vinha de um rebaixamento. Após 10 anos, o cenário se inverte e qualquer coisa pensada em 2010 virou mero desejo ou se perdeu no pó de fracassos e insucessos.
Para os próximos 10 anos, o sonho de Jaconeros e Grenás é poder voltar, no mínimo, a reprisar as glórias da década de 1990. Mas para isso terá de pensar diferente.
– Hoje, no futebol-empresa que tanto se fala, mas que poucos têm adotado, o ideal seria o planejamento estratégico para vários anos. Para 10 anos, acho um período um pouco longo, mas é sempre oportuno fazer esse planejamento. Isso cria uma disciplina e um catecismo de que nos próximos anos precisará ser gerido e dirigido dessa forma – analisa Marcus Cunha Lima, presidente do Juventude do título da Série B, em 1994, quando o Papo conquistou o acesso à elite nacional e figura ativa no futebol alviverde nas conquistas do Gauchão, em 1998, e da Copa do Brasil, em 1999.
Outro presidente campeão, esse pelo Caxias, também entende que planejar é o caminho. Mandatário grená no título gaúcho de 2000, Nelson D’Arrigo acredita que as questões financeiras interferem diretamente na forma como se pensa um período em clube de futebol, principalmente para as equipes longe das capitais.
– O problema do futebol é dinheiro. Se tiver, não se planeja uma década, mas sim 20 anos. Um clube com a pressão do interior, com carências de recursos, dificuldade de contratação, a falta de apoio, incluindo da Federação. Se pensa muito na dupla Gre-Nal, que é quem recebe apoio no Estado. Trabalhar no interior é muito difícil e não é nada diferente da minha época– pondera D’Arrigo, avaliando que as cifras atuais exigem ainda mais atenção: – O desafio é imenso. Hoje está pior. Naquele tempo o futebol era mais barato. Um Caxias ou um Juventude não contratam um jogador por menos de R$ 10 mil, só de folha são R$ 500 mil, fora o clube. É difícil montar, mas requer trabalho, planejamento e engajamento.
Para um futuro promissor, um caminho, segundo os dois ex-dirigentes, está na categoria de base. E enquanto o Juventude se mostra cada dia mais consolidado no trabalho de formação de jovens talentos, o Caxias, após fechar o departamento amador durante a década que se encerrou, retoma aos poucos esse segmento.
– O departamento de base do Juventude, desde as escolinhas, sempre foi muito forte. Olha quantos jogadores o clube desenvolveu no time principal e que vieram lá das escolinhas e depois ainda conseguiu vender. Sempre foi um duplo retorno com as categorias de base – avalia Cunha Lima.
D’Arrigo respalda o trabalho feito pelo clube rival, sabendo que o futuro de uma entidade passa, sim, pela formação de jovens valores:
– Se for comparar em tamanho de estádio, de estrutura, o Caxias tem mais até que o Juventude. Mas o Juventude tem um trabalho de base que é muito grande, e isso é o que equilibra. Mas se tu não tem recurso, não consegue trabalhar na base. O Juventude sempre teve uma formação muito grande de atletas e isso é básico para que tu pense em ter alguma coisa em termos de futuro.
Será uma década diferente. Já começa cheia de novidades após um ano que fez o futebol se reinventar. E o caminho que Caxias e Juventude terão pela frente nos próximos 10 anos vai depender muito do que as pessoas que seguem construindo a história da dupla Ca-Ju vão conseguir planejar.