O termo tem sido cada vez mais aplicado em reflexões contemporâneas: sororidade. Se você ainda não sabe direito o que isso significa, uma boa chance para entender mais sobre esse conceito é conferindo o longa francês As Invisíveis, em cartaz desta quinta (12) até este domingo (15), na Sala de Cinema Ulysses Geremia (que retoma as atividades após sete meses fechada). A obra do diretor Louis-Julien Petit coloca o centro de sua história num abrigo social para mulheres que, à sua maneira, apoiam umas às outras num momento de extrema dificuldade. Assim como na vida real, não há nada de simples nessa caminhada de autodescoberta feminina a partir do olhar de afeto lançado à outra mulher. Desentendimentos, cobranças e julgamentos se fazem presentes em diversas ocasiões, mas o filme reforça uma ideia de humanidade e força que brota da união desse grupo.
Nos moldes do que já fez o premiado cineasta britânico Ken Loach, de Eu, Daniel Blake, As Invisíveis expõe uma faceta da Europa ainda pouco presente no imaginário latino. A obra joga luzes em personagens cujo o sistema econômico vigente prefere não ver — daí o título autoexplicativo do longa. Na história, elas são mulheres sem-teto, a maior parte com idades entre 30 e 60 anos, que passam os dias em um abrigo, onde se alimentam, descansam e tomam banho. Mas a notícia de que o espaço vai fechar as portas, por imposição da prefeitura, as coloca numa situação de ainda maior fragilidade. Cabe então às quatro funcionárias responsáveis pelo espaço a missão de encabeçar uma força-tarefa em prol do grupo. O trabalho envolve a organização de oficinas de capacitação profissional e a confecção de currículos com informações nem sempre tão verdadeiras. O empenho das assistentes sociais é retratado principalmente na figura de Audrey (vivida por Audrey Lamy), que coloca as mulheres do abrigo como prioridade em sua vida.
O peso da temática, no entanto, não define o ritmo de As Invisíveis. Pelo contrário, o diretor opta por tiradas cômicas para suavizar o contexto vivido por cada uma das mulheres. Um dos destaques fica por conta da idosa Chantal (Adolpha Van Meerhaeghe) que faz questão de repetir, em todas as entrevistas de emprego, e por questões éticas, que matou o marido e esteve na prisão por isso. Outra característica positiva do filme é a escolha por atrizes reais — imigrantes e outras mulheres que realmente foram sem-teto na França — para viverem as coadjuvantes da história.
Além de retratar a incansável luta do humanismo contra a burocracia vigente nas esferas públicas dos grandes centros, o longa revela jornadas pessoais pautadas pelo enfrentamento — às vezes bem pessoal. No começo do filme, as mulheres que frequentam o abrigo surgem por trás de nomes fictícios, de atrizes e personalidades famosas que elas mesmas escolhem para preencher no lugar da "identificação" em seus cadastros pessoais. Questão que acaba ganhando uma evolução ao longo do filme, como se o maior desafio dessas personagens invisíveis fosse começar a enxergar elas mesmas.
PROGRAME-SE
:: O quê: exibições da comédia dramática francesa As Invisíveis, de Louis-Julien Petit.
:: Quando: estreia nesta quinta (12) e fica em cartaz até este domingo (15), com sessões sempre às 19h30min.
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312). A sala respeitará protocolos de distanciamento e higienização.
:: Quanto: R$ 10 (geral) e R$ 5 (estudantes, idosos e servidores municipais).
:: Duração: 102 minutos.
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