Há um verso da música A Cultura em que Sabotage (1973-2003) escreve que “todo rap que escreve fará livros também”. Para o rapper caxiense Chiquinho Divilas, rimar também é fazer literatura: pode ser na sala de aula, transformando em versos conteúdos de Geografia ou Matemática para assim aprender melhor; seja na rua, poetizando sobre o cotidiano para transformar o relato mais cru ou mais abstrato em mensagem capaz de transformar vidas. Agora chegou a vez do próprio Divilas levar sua mensagem para as páginas, com o lançamento de Hip Hop nas escolas – O Rap Fala, pela editora Ueba.
O livro parte de um recorte da dissertação de mestrado do autor, defendida em 2018. No estudo, o rapper levou a linguagem hip hop a uma das escolas mais problemáticas de Caxias à época, a Dante Marcucci, no bairro Marechal Floriano. Os resultados transformadores foram o embrião do projeto Hip Hop Nas Escolas, que em 2021 deve iniciar sua quarta temporada. Convidando os alunos a se expressarem artisticamente através da linguagem da arte urbana, a iniciativa já foi premiada nacionalmente. No livro, Chiquinho traz fotos do projeto e também letras produzidas pelos alunos, além de estimular reflexões sobre o modelo atual de ensino e apresentar novas propostas, reforçando a simbiose entre arte e educação:
– Não tem como falar da minha trajetória na vida e na arte sem contar e agradecer pelas oportunidades que recebi, desde os anos 1990. Por isso narro neste livro desde o fracasso escolar, quando era um menino que não queria mais estudar, até o mestrado. O rap me levou para a academia e desde então nunca mais parei de rimar, nem de estudar. São as ações culturais nos espaços de conflito que oportunizaram tudo isso e me fizeram acreditar que a transformação pela arte é possível – conta o autor, de 40 anos.
Com prefácio assinado pelo rapper e arte-educador Renan Inquérito, compositor parceiro de nomes como Emicida, Arnaldo Antunes e Zeca Baleiro, O Rap Fala não visa apenas educadores, mas também o público adolescente. É o que o autor classifica como uma obra Poliglota, pela facilidade de chegar e servir a diversos tipos de leitores:
– A ideia é desburocratizar o acesso. Quero levar para jovens privados de liberdade, estudantes de escolas públicas, acadêmicos, líderes comunitários, educadores. Acredito ser um livro para estimular os moleques e gerar reflexão nos professores, mostrando que a rima, o grafite, a dança, são formas de fazer o aluno gostar de aprender aquele conteúdo que normalmente ele não se interessa. O ambiente escolar já é muito cheio de grades: grade curricular, grades de ferro por todos os lados. Quanto menos o colégio remeter a uma prisão, mais solto o aluno irá se sentir para criar e se expressar, e mais longe ele estará daquelas grades que são pra vida toda.
Metade da tiragem da obra será distribuída pela Fundação Marcopolo, patrocinadora do projeto, e pelo rapper em escolas públicas e entidades que trabalham com grupos de vulneráveis em Caxias. A partir de sexta-feira, data em que é comemorado o Dia da Consciência Negra, o livro estará à venda no site da editora. No dia 4 de dezembro, a editora e o autor irão promover uma live sobre o livro em seus canais virtuais. No dia 5, uma sessão de autógrafos irá ocorrer na 36ª Feira do Livro de Caxias.
O quê: lançamento de “Hip Hop nas escolas – O Rap Fala” (Editora Ueba, 96 págs.), de Chiquinho Divilas, com ilustrações de Rafael Lunardon.
Quando: a partir de sexta, à venda em www.grupoueba.com.br
Quanto: R$ 30.