Uma vez o auge da emoção de um cachorro era correr atrás de uma bolinha e trazê-la de volta ao seu dono. Agora, uma modalidade esportiva capaz de criar um elo ainda maior entre esses dois melhores amigos começa a ganhar força (e novos adeptos, claro). Trata-se do canicross.
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A modalidade surgiu no inverno do Reino Unido. Antes de serem colocados para puxar trenós na neve, os cães passavam por treinamentos com guias ligadas a um condutor. O intuito era fazer com que os cachorros ganhassem tração nas patas. Com o tempo, o treinamento de inverno foi para o verão e a neve passou para os terrenos irregulares. Estava aí colocada uma nova prática esportiva.
E para começar a praticar, além de verificar se tanto o dono como o cachorro possuem condicionamento físico, são necessários apenas alguns equipamentos de segurança. No humano, um cinto chamado de Waist Belt, para impedir que a foça do animal o arraste. No bichinho, um colete de tração, para dar liberdade aos movimentos. Entre os dois, uma guia elástica.
A regra básica e obrigatória do esporte é o bem-estar do animal. O condutor jamais pode estar à frente do seu cão, por exemplo. Isso é considerado uma ato de mau-trato e gera até eliminação imediata.
E para ser considerada canicross, a prova precisa ser um terreno aberto ou acidentado, no estilo crosscountry, e compreender uma distância entre 4 e 7 quilômetros. No Brasil, a modalidade vem ganhando espaço e há cada dia mais interessados. No Rio Grande do Sul, em específico, o número de competidores têm aumentado e o start foi dado por conta de uma ação solidária para os animais.
— No RS, começou com um movimento beneficente, o “Vai, Totó”. Porém, no final de 2018, e com mais força em 2019, alguns organizadores de corridas de rua e de trail têm aberto espaço para que os praticantes possam participar dos eventos com seus cães — explica Simone Jablonski, que coordena uma equipe de canicross em Porto Alegre.
Segundo ela, o desenvolvimento do esporte no país tem tudo para crescer, principalmente na região Sul, e só depende da iniciativa dos organizadores.
— A velocidade desse crescimento depende de organizadores que queiram investir e apostar na inclusão do canicross nos eventos. É um esporte com regras específicas, assim como todos os outros — afirma a esportista, salientando também os benefícios para os animais:
— Diminui muito a ansiedade, ajuda no controle de peso, ajuda na socialização dos cães. São benefícios incontáveis, eu acredito.
Sonho de disputar o mundial
Em Caxias do Sul, o canicross também ganha seus adeptos. Entre eles, o professor Gabriel Britto, que encontrou na modalidade uma forma de aumentar a ligação com Cronos, seu labrador misturado com Golden Retriever, adotado há três anos. Desde 2017, o esporte faz parte da rotina dos dois.
— Estava olhando na internet e vi que o pessoal de uma academia ia participar do “Vai, Totó”, no Parque dos Macaquinhos. Achei legal a ideia e resolvi participar com ele pela primeira vez. E fomos campeões. Ganhamos a primeira prova e agora somos bicampeões — afirma Britto.
Acostumado a correr diversas provas de corrida de rua, Britto descobriu na modalidade uma maneira de estar mais próximo do seu animal de estimação durante os exercícios. Agora, o cão também tem suas “responsabilidades”.
— Ele é um atleta. Então, temos uma planilha de treino, nos domingos ele faz o longão, que é uma caminhada e uma trotada. Tiros durante a semana. Tudo que a gente faz é para ele ter mais resistência dentro da competição — diz o professor, ressaltando que a carga de exercícios não maltrata o Cronos:
— É instintivo do cachorro correr. Para ele, tudo não passa de uma brincadeira. Está correndo comigo, se divertindo. Para o bem-estar dele é importante, porque passa um tempo brincando e está com o dono, que é o principal.
Além dos exercícios e treinamentos, para disputar as competições em alto nível, Cronos passa por avaliações.
— Fazemos checkups anuais, com exames de sangue, procuramos manter sempre o vermífugo e vacinas em dia, além de um bom antipulgas, claro. A alimentação é ração superpremium — afirma a veterinária e apoiadora da dupla, Maria Luísa Salles.
Essa rotina e disposição de Cronos gera situações curiosas junto ao seu dono:
— Já aconteceu de ter que treinar e estar meio chovendo, não estar muito afim, eu olhar pela janela e ver ele sentado, parecendo que sabia que era dia de treino. Realmente há uma conexão entre a gente.
Agora, o objetivo de Britto é disputar o Campeonato Mundial de Canicross, que será disputado no final do ano, na França. Antes, será preciso passar por uma das duas seletivas — dia 23 de maio, no Rio de Janeiro, e no dia 30 de maio, em Campos do Jordão (SP).
Para conseguir participar das seletivas, o professor corre para conseguir patrocínios e apoiadores que o permitam ir até os locais das provas com Cronos. O gasto estimado para isso gira em torno de R$ 5 mil. Para chegar lá e não causar um grande incômodo para o cachorro de grande porte, toda uma logística já foi pensada.
— Nós vamos de carro para o Rio de Janeiro, porque não quero submeter ele a um stress muito grande. É estressante para o cachorro sair da casa dele, do habitat. Estamos organizando tudo para poder dormir durante a viagem.
A ligação entre o dono e o cão tem se intensificado com o canicross. Cronos responde à parceria de Britto com mais vontade nas provas.
— Somos cada vez mais próximos. Minha esposa brinca que eu cuido mais dele do que dela. Ele me fazer bem e eu fazer bem para ele é o que importa.
Gostou da possibilidade de poder fazer o exercício com o seu cão? Quem sabe o canicross possa ser um caminho. No entanto, é importante seguir algumas dicas:
— Acho legal pesquisar bastante sobre o esporte antes e conhecer bem o seu pet. Nem todos os cães e todas as raças são pré-dispostas à uma atividade tão intensa. Alguns têm dificuldade respiratória, então não seria legal fazer, têm os que são mais voltados para trabalho e os de companhia. O mais importante de tudo é conhecer o limite do seu próprio cão. O Cronos vai muito bem porque ele gosta. É bom começar devagarinho para ver como o pet vai indo e, se perceber que realmente o limite dele é esse, não submeter ele a esse estresse — orienta Maria Luísa.