Já faz um certo tempo que o Natura Musical, um dos mais prolíferos editais de fomento artístico do país, tem notado a Serra gaúcha. Desde 2015, bandas de Caxias do Sul como o duo CCOMA, a Yangos, a Catavento e a Cuscabayo, além o Festival Música de Rua, ganharam visibilidade por meio do edital. Parece, então, natural que um projeto como a coletânea Sons que Vêm da Serra também conquistasse aval do programa. Aprovada no ano passado, a iniciativa disponibiliza nesta quinta (14), nas plataformas digitais, 10 faixas que colocam a contemporaneidade musical da região no mapa. Também haverá encontro com apresentações musicais e bate-papo no Teatro do Sesc Caxias à noite.
Leia mais:
Conheça o Slam das Manas, que vai estar no Festival Música de Rua em Caxias
Finalista do Slam BR, Jamille Santos é convidada do Órbita Literária da próxima segunda
Membro da banda Catavento e um dos fundadores do selo Honey Bomb Records, Jonas Bender Bustince idealizou o projeto prevendo gravação e produção de músicas autorais. Quase 70 demos foram recebidas, inclusive vindas de lugares com população menor do que 10 mil habitantes, como São Pedro da Serra, Barão e Salvador do Sul. A curadoria optou por um recorte entre artistas que conseguissem mostrar a Serra como um lugar antenado com o que está acontecendo no mundo, porém, sem perder a conexão com a cultura local.
– A gente quis registrar a diversidade que existe na Serra, que as músicas tivessem uma essência em comum, uma identidade com a estética daqui. Depois de prontas, percebi algumas ligações. A palavra ancestralidade, por exemplo, aparece em várias faixas de forma espontânea. É como se o passado e o agora estivessem abrindo espaço também para o futuro – relaciona Bustince, que no processo de concepção da coletânea teve companhia de Francisco Maffei (produção musical) e Carlos Balbinot e Fabrício Zanco (engenharia de som).
A maioria dos artistas que participa da coletânea é de Caxias do Sul, caso dos grupos OLO, Bloco da Ovelha e TeTo. Os veteranos d’Os Bardos da Pangeia são os representantes de Bento Gonçalves, enquanto que Jagunço e Gabrre, jovens que gravam suas canções sozinhos no próprio quarto, são artistas de São Marcos e Gramado, respectivamente.
– Eles são os cavaleiros solitários do projeto – brinca o curador.
Também merecem atenção as parcerias envolvidas na coletânea. O músico e pesquisador João Gôsto descobriu o trabalho de Maria Rita Stumpf (nascida em Jaquirana e atualmente radicada em São Paulo) e foi atrás de uma troca musical entre diferentes gerações. Única a incluir o acordeon (instrumento que é símbolo da Serra) em sua formação, a Araucana trouxe participação do violeiro Valdir Verona para “engordar” o som. Outra união proporcionada pelo Sons que Vêm da Serra foi entre a banda de rock Não Alimente os Animais e o músico senegalês Mohamed Aw.
– Quando eu soube desse projeto da banda com o Mohamed pensei “isso é muito contemporâneo”, afinal, aqui é uma terra de imigrantes – diz Bustince.
Na lista de artistas participantes há ainda quem nunca havia entrado em um estúdio antes. É o grupo Slam das Manas, formação originária dos encontros urbanos de poesia falada que, por meio do Sons que Vêm da Serra, se aventurou no mundo da música pela primeira vez. Trata-se de uma oportunidade valiosa para levar o discurso engajado do trio (envolvendo pautas da comunidade afro e LGBTQ+) também a novos alcances.
– Acho que foi gigante para nós essa produção e esse reconhecimento. O recado dado é esse: estamos ocupando espaços, temos direito a esses espaços e estamos fazendo parte de uma cultura que é nossa, não vamos retroceder, vamos só avançar – sentencia Polliana Abreu, integrante do Slam das Manas ao lado de Jamille Santos e Yuri Bennihur.
Programe-se:
:: O quê: coletânea Sons que Vêm da Serra.
:: Quando: disponível nesta quinta, nas plataformas digitais.
:: Lançamento: a partir das 19h desta quinta, o Teatro do Sesc Caxias exibe todos os clipes do projeto, além de oferecer um bate-papo com a produção da iniciativa e performances musicais de Slam das Manas e da dupla Maria Rita Stumpf & João Gôsto. A entrada é gratuita.