Os olhares alternativos que o título da exposição sugere foram construídos ao longo de pelo menos 24 anos de namoro entre o artista Alexandre Frigeri e Paris. As fotos da mostra com abertura marcada para esta quinta (10), no Instituto SAMbA, são bem atuais, registradas na incursão mais recente do turista brasileiro, realizada em fevereiro. Entretanto, o material exposto propõe ângulos e espaços que somente um conhecedor íntimo da estética e diversidade parisienses poderia alcançar.
– Tentei sair do senso comum, sair daquela Paris do glamour somente. Saí numa busca por um tom mais contemporâneo, fui registrar a Paris de verdade, nua e crua – diz Frigeri, caxiense radicado no Rio de Janeiro.
As 30 fotos de Paris: Olhares Alternativos revelam desde o luxo das galerias e o requinte da arquitetura até o clima cosmopolita dos bairros habitados por imigrantes árabes ou os ares democráticos de espaços públicos como praças e ruas. A arte expressada pelo grafite permeia toda a exposição e reforça a preocupação do artista em registrar Paris como uma metrópole plural e cheia de camadas.
– Acho que é a cidade mais cosmopolita do mundo, quem a visita encontra apelo de cultura por todos os lados. É um lugar onde você nunca para de descobrir coisas – explica.
Com trajetória profissional ligada à área de consultoria em relações internacionais, Frigeri sempre foi um colecionador de arte e apaixonado por diferentes estéticas. Em Paris: Olhares Diversos, ele capta o caráter transgressor e subversivo dos grafites e termina por ressignificá-lo. As imagens concedem novas vazões estéticas às manifestações que estampam as áreas urbanas da cidade. Para Frigeri, seus registros acabam ganhando um papel democratizador, visto que podem levar esses recortes de grafites para outros ambientes, como as próprias galerias de arte.
– Acho que pode ser uma espécie de reconhecimento também ao trabalho deles (grafiteiros), já que a arte tem um conceito ainda muito elitizado. Além do ponto de vista estético, os grafites têm um apelo social muito grande – justifica.
Com curadoria de Marco Antonio Portela, a exposição traz ainda referências ao cinema (Amélie Poulain e François Truffaut) e a um dos maiores nomes da arte urbana no mundo, o anônimo Banksy.
– Ele é uma referência do grafite, procurei tudo dele que tinha na cidade. Mas também fui nos bairros, no underground. Encontrei paredes com grafias em árabe, quis dar essa atenção para eles, que são tão discriminados – conta Frigeri.
Além da abertura da exposição Paris: Olhares Alternativos, o encontro de hoje também marcará um ano de atividades do Instituto SAMbA. Por lá, haverá também inauguração do acervo do espaço, com nomes como Oscar Niemeyer, Burle Marx, Heitor dos Prazeres, Oswald Goeldi, Carybé e Dionisio Del Santo, doados pelo próprio Frigeri, apaixonado das artes clássicas e contemporâneas.