A reportagem Infâncias tocadas pela música, publicada no Almanaque deste fim de semana, trouxe histórias de pessoas que tiveram a sua vida transformada a partir do contato com um instrumento musical.
Na mesma medida em que a criançada tem à disposição uma parafernália tecnológica cada vez maior, com equipamentos digitais abastecidos de conteúdos que as convidam a manter os olhos vidrados na tela, mais especialistas em educação e psicologia infantil têm apontado a necessidade de dar aos filhos opções de “entretenimento desconectado”.
De tempos em tempos, viralizam artigos que defendem a retirada do tablet das mãos da criança e sua troca por um instrumento musical, por exemplo. Os benefícios da musicalização e do ensino da arte ainda na infância vão muito além do aprendizado técnico. Como explica a psicóloga caxiense Rafaela Manfroi de Moraes, especialista em terapia cognitivo-comportamental para crianças e adolescentes, na entrevista a seguir:
Almanaque: Quais os benefícios que a introdução ao mundo da música (canto, instrumento ou dança) ainda na infância pode dar à formação?
Rafaela Manfroi: O contato com a música potencializa características do desenvolvimento com maior facilidade, como, por exemplo, coordenação motora, fala, dicção e alfabetização. Também desperta a criatividade e aguça a sensibilidade e afetividade. Pesquisas apontam que, através da inclusão da criança no meio musical, há um maior desenvolvimento da memória. Além disso, crianças com dificuldade em manter a atenção podem apresentar uma melhora significativa após realizarem atividades musicais.
Existe uma idade mais adequada para dar à criança o primeiro instrumento musical de verdade? É bom que acompanhe a alfabetização?
A partir dos 5 anos, a criança já evidencia coordenação motora para aprender algum instrumento. Ela inicia a fase da alfabetização, conseguindo elaborar o pensamento antes da fala e desenvolvendo a noção de tempo e espaço. Entretanto, é importante considerar se há interesse pela música e por tocar um instrumento. O acompanhamento e a paciência dos pais são essenciais para a permanência das crianças nos estudos. Cada criança é única, com suas peculiaridades e potencialidades, tendo seu próprio tempo para aprender. Por isso, cabe aos responsáveis avaliar o momento certo para iniciar o processo.
Nesta era em que as crianças estão cada vez mais expostas aos aparelhos eletrônicos, torna-se ainda mais importante estimulá-las a desenvolver o gosto por passatempos analógicos, como um instrumento musical?
A tecnologia faz parte do cotidiano da criança, trazendo alguns benefícios evolutivos. Entretanto, seu uso indiscriminado, sem um objetivo educacional, pode gerar um bloqueio no desenvolvimento de habilidades e potencialidades. O fato de aprender a tocar um instrumento, por exemplo, prepara a criança para assumir os seus talentos pessoais, além de desenvolver autoconfiança, autoestima e motivação para realizar outras atividades que dependam do seu próprio esforço.
Existe casos em que pais chegam ao teu consultório com a criança apresentando determinado problema e que tu indiques a música como parte de um tratamento?
Algumas demandas que surgem no consultório, há alternativas concomitantes que podem auxiliar no processo terapêutico, como a música, por exemplo. Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), tendem a ter uma relativa melhora em suas habilidades de comunicação e convívio social. No Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), a música pode auxiliar na disciplina e na concentração.
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