O jornalista e escritor curitibano Toninho Vaz participa neste sábado da 35ª Feira do Livro de Caxias, neste sábado, dia 28 de setembro, às 19h. O Toninho Vaz é um desses caras que senta nas mesas de bar e finge conversar para observar quem entra e quem sai, ou para onde vai o olhar de quem diz estar acompanhado, mas despista de fitar a esposa para espreitar uma outra mesa. Não por acaso, Toninho, que é jornalista, hoje ganha a vida de investigar a vida dos outros.
Leia ainda:
Centro de Caxias do Sul vira o reduto dos leitores
Joselia Aguiar vem à Caxias lançar biografia de Jorge Amado
Feira do Livro de Caxias no IGTV do Pioneiro
Dito assim soa estranho, e é por isso que o mercado editorial chama essa profissão de biógrafo. Mas no fundo dá mesma. Por telefone, a partir do Rio de Janeiro, onde chove há dias sem parar e, por isso, foi uma trabalheira do cão completar a ligação, Toninho diz que dessa vez vai ter mais tempo de passear pela cidade e tomar uma Serramalte.
— Sou um cervejeiro quase aposentado — desconversa.
De cara, despista a primeira pergunta, se é possível cravar que ele seja o rei das biografias. Já que acumula no currículo sete livros e um oitavo já está no prelo, deverá ser lançado em março de 2020, Meu nome é Ébano - Biografia de Luiz Melodia.
— Não...eu não sou o rei das biografias, não. Tenho na minha mira as biografias de Ruy Castro e Fernando Morais, que amei antes de sonhar em ser biógrafo, ou de ser identificado como biógrafo. As duas do Ruy que eu li, do Garrincha (Estrela Solitária) e do Nélson Rodrigues (Anjo Pornográfico - A vida de Nelson Rodrigues), mais a do Chatô (Chatô - Rei do Brasil), do Fernando Morais, são muito boas. Mas o meu viés é diferente do deles. Eles tem uma pegada mais mega star, eu me interesso pela contracultura. Por exemplo, eu nunca escreveria sobre a Carmem Miranda, mas me interesse em pegar uma anti-Carmem — destila Toninho Vaz, curitibano e torcedor do Atlético Paranaense que patrolou com louros a dupla Gre-Nal, recentemente.
Aliás, sua estreia nessa vida de observar a vida dos outros se deu com a investigação de um cara que Toninho conhecia desde a adolescência, em aulas dos cursinhos de pré-vestibular, o professor e poeta Paulo Leminski.
— Minha cabeça de pós-adolescente foi feita tendo como professor o Leminski. Eu falo dele como um professor informal pra mim, porque eu nem era matriculado e ia ver ele dar aula. Na verdade, era um show que ele dava. O Leminski dava aulas de literatura, inglês e história. No Paraná ele tinha o melhor salário de professor. E além disso, era um tropicalista, amigo do Caetano Veloso, do Gilberto Gil, dos Novos Baianos. Por isso que essa coisa da contracultura me persegue ainda hoje — brinca.
Dessa estreia em 2001, com Paulo Leminski, o bandido que sabia latim, Toninho tem buscado a trilha de gente que ficaria pra sempre na sombra da cultura brasileira. E, no meio do caminho, Toninho encontrou um tal de Zé, que, para alguns andava esquecido e, para outros, sequer existia. O tal do Zé Rodrix é mais conhecido por ser um dos compositores de Casa no Campo, que a maioria das pessoas sempre pensou ser música da Elis Regina. Irônico, não é? Até porque era a Elis quem entoava a canção que estourou nas paradas de sucesso da época. Tá, mas e o Rodrix, por que há tanto mistério nessa figura que dividiu o palco com Sá e Guarabyra?
— Primeiro, não é fazer propaganda de mim mesmo, mas o livro do Zé Rodrix é uma das melhores biografias que eu já fiz e uma pessoa inusitada para a cultura da minha geração. Estudando a vida dele descobri porque ele tinha um perfil meio desinteressante. É que o Zé Rodrix era maçom de alto grau. Um discípulo tem de cumprir 33 graus e ele chegou até o 32º. Por isso que a vida dele era um mistério. Ele escreveu três livros sobre o assunto, cada um com cerca de 900 páginas. Quando terminei de ler o primeiro volume fiquei estupefato — revela Toninho, dando-se conta da joia rara que havia encontrado, com a mesma sorte de um homem do garimpo.
Sem entregar muito mais do conteúdo do livro, há uma curiosa passagem que revela um pouco a preciosidade que era o Zé Rodrix. Um dia antes da notícia da morte de Elis Regina, Rodrix estava na mesma festa com Elis. Por ser careta, e não usar drogas, conta Toninho, o Zé Rodrix resolveu ir pra casa.
No dia seguinte, ao saber da morte da musa da música brasileira, que transitava soberba entre a bossa nova e a fossa da contracultura, Zé Rodrix tomou pra si uma culpa do tamanho do mundo e decidiu larga a música. Daí foi virar compositor de jingle, cujas peças mais famosas são as músicas para um comercial da Chevrolet e a adaptação da clássico do Big Mac. Sim, aquele mesmo, do alface, do queijo, molho especial, e tal.
AGENDE-SE
O quê: Bate-papo com o jornalista e biógrafo Toninho Vaz, com mediação de Dinarte Albuquerque Filho. Lançamento do livro e sessão de autógrafos de Zé Rodrix.
Quando: sábado dia 28 de setembro, a partir das 19h
Onde: Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim (Casa da Cultura - Rua Dr. Montaury, 1.333 - Caxias).
Quanto: entrada franca.