— Como eu descreveria minha luta? É uma luta de coragem. Porque é difícil, né? Eu já enfrentei muito preconceito, principalmente na minha adolescência. Por isso eu digo que é preciso ter coragem.
A empresária Tatiana Gonçalves, 47 anos, mantém voz convicta ao relembrar a própria trajetória na luta pelo direito básico de existir, sem medo e sem obstáculos. Tai, como é conhecida por amigas e companheiras de causa, integra a Marcha Mundial das Mulheres e é uma das organizadoras do Dia da Visibilidade Lésbica em Caxias do Sul.
A data é celebrada em todo o país para recordar o 1º Seminário Nacional de Lésbicas, realizado no Rio de Janeiro, em agosto de 1996. Na época, o casamento homoafetivo ainda não era reconhecido, assim como não era permitida a adoção de crianças por duas pessoas do mesmo sexo. Também era incomum a presença de personagens LGBT na teledramaturgia – vale lembrar do emblemático caso da novela Torre de Babel, de 1998, onde o casal vivido pelas atrizes Christiane Torloni e Silvia Pfeifer foi rejeitado pelo público e o autor Silvio de Abreu acabou matando as personagens na explosão de um shopping.
Apesar de alguns avanços nos últimos 23 anos, como casamento, adoção e maior representatividade na mídia, o Brasil ainda ostenta o indesejado título de lugar mais inseguro para a comunidade LGBT. Conforme o Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil, foram registradas 54 mortes de mulheres lésbicas ou bissexuais no país em 2017 — um aumento de 237% em relação a 2014.
Não bastassem os números, a eleição de Jair Bolsonaro para ocupar a presidência da República, mesmo com recorrentes declarações preconceituosas, só fez aumentar as incertezas quando o assunto é visibilidade e direitos humanos.
Foi pensando justamente nesse cenário que Tatiana, ao lado de outras mulheres lésbicas e bissexuais, organizou as atividades que iniciam às 8h desta quinta-feira (28), com discurso da ativista Angela Martins na tribuna livre da Câmara de Vereadores e seguem, às 19h, com sarau de literatura lesbofeminista no Reffugio Art Café. Na sequência, às 22h, uma caminhada sairá em direção à casa noturna Level Cult, onde a programação encerra com a festa Uma Sapatona Destruidora Mesmo.
— Preconceito sempre existiu. Agora ele está um pouco mais explícito por ter alguém dando voz a tudo isso. O importante é não acabar a luta, não voltar para o armário, não permitir os retrocessos, estar na rua fazendo caminhadas e convocando mais mulheres — diz Tatiana, ao defender que a invisibilização também seja debatida dentro do movimento LGBT, onde, muitas vezes, homens gays acabam monopolizando o protagonismo.
Mesmo com programação mais enxuta do que ano passado, quando foram realizados 11 eventos ao longo de uma semana inteira, o 29 de agosto não passará em branco em Caxias do Sul. Afinal, o Dia da Visibilidade está aí para mostrar que resistir em tempos duros também é caminho para novas conquistas.
PROGRAME-SE
:: O que: Dia da Visibilidade Lésbica em Caxias do Sul.
:: Quando: nesta quinta (28), a partir das 8h.
Atividades
:: 8h: fala da ativista Angela Martins na Câmara de Vereadores.
:: 19h: sarau literário no Reffugio Art Café (Rua Tronca, 3485).
:: 22h: caminhada do Reffugio até a Level.
:: 23h: festa Uma Sapatona Destruidora Mesmo, na Level (Rua Cel. Flores, 789), com entrada gratuita para quem colocar o nome na lista que circulará no sarau.