O público parecia não querer cessar as palmas após os créditos de Bacurau subirem na telona, durante a primeira exibição do filme no Brasil, na sexta-feira à noite. Um Palácio dos Festivais lotado ovacionou o filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, escolhido para abrir a programação do 47° Festival de Cinema de Gramado fora de competição. Antes da sessão começar, a extensa equipe da produção subiu ao palco. Reforçando o caráter político de suas aparições, Kleber Mendonça fez questão de exaltar o papel fundamental dos artistas, que parecem representar um dos alvos do cenário político atual.
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Bacurau dá nome a um pequeno povoado do nordeste sitiado por um grupo de caçadores (assassinos) americanos. É um lugar negligenciado pelas autoridades e, simbolicamente, até pelo mapa. O acesso à água está escasso e a conectividade das telas de celular garante o compartilhamento das informações entre os moradores, num paradoxo muito real e possível. Trata-se de um sertão com flertes de hi-tech habitado por personagens cheios de força. Não há protagonistas na história, talvez para dar uma ideia de unidade àquela população. Afinal, Bacurau é o recorte de um Brasil que resiste, de pessoas que pensam e agem juntas.
— Bacurau remete ao nosso povo pobre que nunca teve ninguém ali interessado em ajudar, sempre vivendo no abandono, no isolamento. É isso, 500 anos de Brasil e a maioria vive dessa forma, tendo que aprender a se proteger — apontou Juliano Dornelles.
A narrativa faz uma crítica à hegemonia americana e à possibilidade do livre acesso às armas. Para reagir ao ataque dos americanos, a população precisa recorrer à violência empunhando armas que estavam antes guardadas num museu.
— Eu, particularmente, acho que a maior parte das armas deveria ser destruída. Essa é uma das ideias que está por trás do filme que a gente escreveu. A educação é a base de Bacurau — explica Kleber.
Apesar de situar o espectador num futuro (sem data especificada), os elementos da história que mais saltam aos olhos parecem remeter justamente a questões de retrocesso social, temática completamente atual.
— Tudo que a gente vê no filme, questões de violência, de corrupção, de desrespeito ao próximo, de repetições de invasões são parte da história da humanidade. Tudo isso, na verdade, não diz respeito ao futuro, diz respeito ao passado. Bacurau é um filme de história sobre o passado — refletiu Kleber, na coletiva de imprensa do filme, sábado.
Numa cena emblemática, uma forasteira pergunta "quem nasce em Bacurau é o quê?", e uma criança responde: gente. É isso. Bacurau é um western de aventura, realidade fantástica e crítica social, mas também pode ser classificado com um filme sobre gente.
— É um filme que fala a língua do brasileiro, o que nós precisamos — apontou Sonia Braga, um dos destaques do elenco competente do longa que estreia nas telas de todo o Brasil no dia 29 de agosto.
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