Nanetto Pipetta é um tipo de Chaplin, de Oscarito, de Grande Otelo, de Mazzaropi. É um tipo engraçado, que debocha de si mesmo, faz piada com a sua condição social, mas também acaba sendo um cronista do seu tempo. Pois Nanetto volta à cena, em Caxias, justamente no palco que recebe o nome do ator que por mais tempo interpretou o anti-herói da cocanha. Hoje, às 20h, ocorre a apresentação de Mitincanto - As aventuras e desventuras de Nanetto Pipetta, da Associação Cultural Miseri Coloni, no Teatro Pedro Parenti, da Casa da Cultura, em Caxias.
Chaplin, Oscarito, Grande Otelo e Mazzaropi inventaram personagens e sustentaram essas vidas em cena, imortalizados principalmente no cinema. Nanetto não fez filme em Hollywood, sequer na Embrafilme, quiçá teve projeto aprovado pela Ancine, mas ele tem um quê de especial. Nanetto sobreviveu para além do seu criador Aquiles Bernardi, também conhecido como Frei Paulino de Caxias, que publicou as histórias no jornal Stafetta Riograndense, entre 1924 e 1925. Nanetto prova agora que sobrevive para além da interpretação de Pedro Parenti.
— Durante o processo de construção do personagem eu percebi que o Nanetto é mais lembrado do que o ator Pedro Parenti — revela o chileno Cristian Beltrán, responsável por interpretar Nanetto nesta nova fase.
No imaginário coletivo, e isso ocorre principalmente em obras com cunho mais popular, o ator passa a ser reconhecido como sendo o personagem. É por isso que Pedro Parenti muitas vezes é mais lembrado como o personagem Nanetto, do que como ator. Em Mitincanto, a ideia inicial nem era colocar Nanetto em cena, como explica o diretor Camilo de Lélis.
– A ideia original era adaptar o livro Mitincanto, do italiano Gianluiggi Secco, que resgatou canções, lendas e mitos com a temática sobrenatural e personagens fantásticos. Mas faltava um enredo, porque o livro não é uma peça, mas uma pesquisa. Então falaram com o José Clemente Pozenato para ele escrever um roteiro. Aí é que entrou a minha parte, que foi sugerir que aparecesse a história do Nanetto, desde o nascimento, na Itália, até a vinda para o Brasil – explica Lélis.
Mais do que um resgate do personagem mítico da conquista da cocanha, Lélis justifica que houve uma adaptação e modificação em como o personagem é representado nessa nova versão com o ator Cristian Beltrán.
— Originalmente, o Nanetto era mais cruel e cheio de preconceitos. Isso tem muito a ver com a época em que o personagem aparece . Agora, apresentamos ele ingênuo e puro, que é levado a acreditar que a América era um lugar maravilhoso, onde dinheiro dava em árvore — observa Lélis.
Além dessa nova investidura, de linguagem e construção do personagem, Nanetto passa de anti-herói para herói porque enfrenta cenas perigosas com dragões e também porcos. Para coroar a carreira de herói, enfim Nanetto encontra o amor da sua vida. Toda essa abordagem é, na verdade, um reforço da condução do Miseri ao longo destes quase 40 anos de atividades como um grupo de teatro popular.
— O que se faz no Miseri é o teatro na sua forma mais original. O teatro nasceu na Grécia e era feito para o povo ver e conhecer seus mitos e lendas — ensina Lélis.
A obra do Miseri Coloni é familiar, por isso, torna-se popular. Porque é como se a arte imitasse a vida. E assim é mais uma vez em Mitincanto. A condução do espetáculo, por exemplo, é feita pela avó que lê histórias para os netinhos e acaba por ser a narradora do espetáculo para colocar o espectador em cena.
Assim também era com a Nair Chies, hoje com 89 anos. Ela ouvia do avô Andrea Chies as histórias de Nanetto, sentada no chão da sala ao lado dos irmãos e primos, em Arroio Canoas, lá no interior de Carlos Barbosa. Quer mais popular e singelo do que isso?
PROGRAME-SE
O quê: Mitincanto - As aventuras e desventuras de Nanetto Pipetta, do grupo Miseri Coloni
Quando: quinta-feira, dia 25 de julho, às 20h
Onde: Teatro Municipal Pedro Parenti (Casa da Cultura)
Quanto: Ingressos a R$ 30. Estudantes, sênior e classe artística, R$ 15.