Inverno de 1969. A manchete do jornal Pioneiro, de Caxias, no dia 19 de julho, um dia antes do homem pisar na Lua, mostrava a instabilidade econômica no governo do prefeito Victório Trez: "Arrecadação do município no primeiro semestre do corrente ano não atingiu a previsão orçamentária".
Na vida social da cidade, a miss Rio Grande do Sul Ana Cristina Rodrigues visitava as Lojas Renner. Ivan Trilha chamado de "astrólogo da juventude", por dar consultoria às constelações da Jovem Guarda, como Roberto Carlos, Jerry Adriani e Wanderley Cardoso, estava hospedado no Real Hotel. E no esporte, Juventude e Flamengo participariam de um torneio em Lajes, com o Guarani e o Internacional.
Mas o Pioneiro também destacava na capa um dos eventos de maior repercussão até hoje noticiados em nossa aldeia global: "Intensa expectativa em todo o mundo: homem aproxima-se da Lua". O caxiense Romeu Victorio Rossi é uma das testemunhas oculares dessa história.
— A notícia caiu como uma bomba na cidade. E depois que todo mundo viu pela televisão, dividiu a opinião das pessoas. Eu digo que 70% acreditava, mas 30% dizia que era mentira. Eu sempre acreditei que o homem chegou à Lua, mas tinha uns antiamericanos, mais esquerdistas e a favor da Rússia, que diziam não ser verdade — recorda Rossi, aos 88 anos.
A tripulação da Apollo 11 pousou na Lua domingo à noite, em 20 de julho de 1969. A família de Rossi, assistiu pela televisão, em casa, na sala de um sobrado onde moravam, em frente ao Senai. Rossi acompanhou ao maior evento da história ao lado da esposa Irma Carmelina, e dos filhos Humberto e Ronaldo.
Na época, Rossi era gerente adjunto da agência do Banco do Brasil, e atendia em média 40 pessoas por jornada. Mesmo depois de Neil Armstrong pisar na Lua, não se falava em outro assunto.
— Parece que ninguém mais queria falar em duplicata, financiamento, nem pagamento de contas, o assunto era o homem na Lua. Eles me perguntavam: "Seu Rossi, o senhor viu?" — diverte-se.
"A chegada de dois astronautas norte-americanos na Lua inaugurou uma nova era na história da humanidade". Essa é a frase inicial do editorial, texto de opinião do jornal Pioneiro, uma semana depois da chegada do homem à Lua. O tese se complementava com a argumentação: "(...) a viagem da Apolo 11 e do módulo lunar, a transmissão pela televisão das imagens de Armstrong e Aldrin, chegando à Lua, a troca de informações, por fonia, entre eles e a base da Terra, com nitidez e precisão absolutas, inauguram uma nova era da humanidade, em maiores proporções do que aquelas assinaladas pela descoberta da América, pelo advento do navio a vapor, do trem, do automóvel e do caminhão, do avião, do telefone, do telégrafo, do rádio e da televisão".
Os astronautas norte-americanos Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collin serão lembrados por todo o sempre como os tripulantes da Missão Apollo 11. Armstrong e Aldrin, mais notórios ainda, por terem sido os primeiros a pisar na Lua e a cravar a bandeira dos Estados Unidos como símbolo de conquista. Tudo isso, em meio a um contexto de Guerra Fria, com enfrentamentos em todas as esferas de um planeta que dividia-se entre o apoio ao americanos ou aos soviéticos. O homem na lua ainda é uma metáfora sem fim daqueles idos tempos, e que seguirá repercutindo.
A Missão Apollo 11
Michael Collins não conquistou a fama e o carisma de Neil Armstrong, sequer de Buzz Aldrin. Armstrong será sempre o primeiro e, por isso, o mais lembrado e referenciado. Collins pilotou o módulo de comando e serviço Columbia na órbita da Lua enquanto Armstrong e Aldrin permaneceram 21h e meia caminhando pela Lua. Entre os itens coletados pelos astronautas, estão pedaços de rocha, seixos, solo e poeira.
O maior impacto foi a transmissão ao vivo das imagens, feitas pelos astronautas. Quando pisou na superfície lunar, Armstrong disse: "É um pequeno passo para um homem, mas um passo gigante para a humanidade". O feito marcou a história e colocou os EUA à frente da União Soviética na corrida espacial. O presidente democrata John F. Kennedy iniciou a corrida, em 1961, defendendo que levar o homem à Lua era a sua missão "antes de esta década acabar, aterrissar um homem na Lua e retorná-lo em segurança para a Terra". Ironicamente, quem colheu os louros e posou para as fotos foi o republicano Richard Nixon.
O mundo em 1969 - um ano inesquecível
No contexto global, o mundo dividia-se entre duas forças antagônicas, EUA e União Soviética, cada um deles brigando pelo protagonismo político e econômico em meio a uma declarada Guerra Fria. No Brasil, o presidente era o Marechal Artur da Costa e Silva, gaúcho de Taquari, que acabaria por ser reconhecido na história como o governo que iniciou a fase mais dura da ditadura militar.
Foi sob a batuta de Costa e Silva que entrou em vigor o Ato Institucional número 5 (AI-5), resultando na perda de mandatos de parlamentares contrários aos militares, intervenções ordenadas pelo presidente nos municípios e estados, e institucionalização da repressão. Com o aumento da atividade subversiva, a repressão encontrou no AI-5 o legalismo para perseguir, prender e torturar os militantes contrários ao regime militar.
Não por acaso, Glauber Rocha lança em 1969 um de seus clássicos, O dragão da maldade contra o santo guerreiro, e Joaquim Pedro de Andrade exibe pela primeira vez Macunaíma. Os filmes traziam a crítica do atual momento, não pela dualidade entre EUA e União Soviética, mas serviam de contraponto a um governo que dizia ser heroico.
Nos Estados Unidos, 1969 foi o ano do Festival Woodstock, com bandas como Grateful Dead, Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin com a The Kozmic Blues Band, e pra fechar a fatura, Jimi Hendrix. No Brasil, o som da gurizada à esquerda da margem era Os Mutantes, Gal Costa e Caetano Veloso e, os do centro à direita, era Roberto Carlos e sua Jovem Guarda.
E pensar que os sons de Woodstock vieram ressoar em Caxias, justamente 13 anos depois, no Cio da Terra, realizado em 1982, nos Pavilhões da Festa da Uva. Hoje, há mais militares ocupando cargos em instituições civis do que sonhavam nossos pais em 1969. Sinal dos novos tempos e mais uma comprovação de que 1969 foi um ano inesquecível.
Curiosidades
- Cães, macacos, ratos, coelhos e até moscas, foram os primeiros a orbitar a Terra. Cães soviéticos estrearam em 1951.
- Em 4 de outubro de 1957, os soviéticos lançaram o foguete Sputnik que colocou no ar um satélite.
- O soviético Yuri Alekseievitch Gagarin foi o primeiro homem a viajar pelo espaço, em 12 de abril de 1961, a bordo da Vostok-1. Gagarin teria dito: "A Terra é azul!".
- John Glenn foi o primeiro norte-americano a orbitar o planeta, em 1962. Mas os cálculos da viagem foram feitos pela matemática Katherine Johnson.
- A primeira música tocada no espaço foi Jingle Bells, por Walter Schirra usando uma gaita de boca, a bordo da Gemini 6, em 16 de dezembro de 1965.
- Edwin Aldrin Jr, mais conhecido como Buzz Aldrin, pisou na Lua em companhia de Neil Armstrong. O astronauta inspirou o nome do personagem Buzz, de Toy Story.
- O último homem a pisar na Lua foi Harrison Schmitt, em 1972.
- Enfim russos e americanos estabelecem uma parceria com o projeto Apollo-Soyuz, em 1975.
- Marcos Pontes foi o primeiro astronauta sul-americano a ir ao espaço, em 2006.
- Em 2008 a Nasa transmitiu ao espaço a canção Across the Universe, para celebrar o 40º aniversário da gravação da música dos Beatles e os 50 anos da fundação da agência espacial americana.
- Entre 2017 e 2040 vai triplicar a economia no setor espacial, com receitas superiores a U$ 1 trilhão.
Mulheres no espaço
1963
A soviética Valentina Tereshkova foi a primeira mulher no espaço. Ela passou cerca de 70 horas a bordo da Vostok 6, completando 48 órbitas terrestres.
1983
Sally Ride, da Nasa, foi tripulante da Challenger e se tornou a terceira mulher do mundo a ir ao espaço.
1984
A soviética Svetlana Savitskaya, fez uma caminhada espacial, ficou pouco mais de três horas executando tarefas fora da estação Salyut.
2008
A norte-americana Peggy Whitson foi a primeira mulher a comandar a Estação Espacial Internacional. O feito repetiu-se em 2017.
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