Mais importante artista visual viva do Rio Grande do Sul, Zoravia Bettiol, 83 anos de vida e 60 de carreira, traz seu multifacetado trabalho a Caxias do Sul pela sétima vez. Sim, a porto-alegrense tem anotadas todas as exposições que fez em sua longa trajetória, e por isso recorda que já realizou mostras na escola Aliança Francesa, na Casa da Cultura, Feira do Livro e na UCS. Mais de uma década após a última passagem pela cidade, em 2006, Zoravia retorna nesta terça-feira para uma programação intensa, que contempla a inauguração da mostra de gravuras Três Propostas Visuais, uma oficina artística e a exibição de um documentário sobre a sua carreira.
Composta por 28 gravuras, a exposição condensa três séries consagradas, que perpassam temas caros à obra da artista, como o ambientalismo, a conscientização política e o lirismo. Em Sentar, Sentir, Ser, Zoravia é a personagem fotografada em diversos gestos possíveis ao ser humano na hora de sentar. A partir do gesto fotografado, a gravura é complementada com cenários e objetos, explorando toda sua criatividade. Já Brasil 2016 mostra o posicionamento político da artista, que denuncia a demarcação de terras quilombolas e indígenas, critica a terceirização de serviços e defende a aprovação de políticas sociais, como o Bolsa Família. Por fim, Exuberância Primaveril traz sua faceta ecologista, com figuras humanas representadas menores do que flores e vegetações, como num recado de que o ser humano é transitório, enquanto a natureza, mesmo em suas formas mais delicadas, continua viva apesar de toda a depredação a que é exposta.
– O que une todos esses pontos de vista é o humor. Acho que o humor, por mais difícil que seja o tema, permite dizer mais do que muito discurso que se pretende sério. É uma comunicação mais instigante e mais profunda, muitas vezes – destaca Zoravia.
Dona de uma obra diversificada, em que explora principalmente tapeçaria e gravuras, Zoravia, cuja mãe é caxiense, agrega à arte os valores e o engajamento de uma boa educadora, especialmente preocupada com a inclusão social pela cultura. Defende a bandeira do livre acesso à arte para os jovens, público par ao qual direciona seu olhar mais atento:
– Acho que a gente tem obrigação de informar e provocar o jovem, estimulando-o a pensar e se situar no mundo em que vive. Fico feliz em ver exemplos marcantes como as ativistas Malala (paquistanesa, defensora dos direitos das crianças e adolescentes) e a Greta Thunberg (sueca, ativista pelo meio ambiente), que desde muito jovens lutam pelo que acreditam. Enquanto os mais velhos perderam o senso de responsabilidade e coletividade, os jovens estão sendo chamados a se posicionar. E cabe ao artista estar ao lado do jovem.
A artista acrescenta que a luta pela transformação exerce papel importante no fato de permanecer tão ativa em sua nona década de vida:
– A gente tem que ter projetos pessoais, mas sempre ter também projetos que incluam o outro. No meu caso, são projetos na área artística e cultural e também na área social. Tenho muito trabalho a ser feito no meu instituto, tento como principal objetivo a inclusão social por meio da arte e da educação. Acredito na inclusão como uma forma de conseguir resultados tão importantes quanto gratificantes.
Agende-se
O quê: exposição Três Propostas Visuais, de Zoravia Bettiol (18h30min); oficina Uma Visão Ambientalista (14h30min) e exibição do documentário Zoravia, de Henrique de Freitas Lima (20h30min).
Quando: terça-feira (a mostra pode ser visitada até o próximo dia 8).
Onde: Centro de Cultura Ordovás.
Quanto: visitação gratuita (todas as obras da mostra estarão à venda, com preços entre R$ 400 e R$ 600).