Uma das mais grandiosas histórias construídas na Serra gaúcha merece mais do que uma sala apertada, por mais que bem cuidada, para preservá-la. Na próxima quarta-feira, o lançamento da pedra fundamental do futuro Memorial Randon, no bairro Saint Etienne, em Caxias do Sul, será o início de uma obra que promete celebrar o legado da empresa cuja trajetória se mistura com a do desenvolvimento da cidade e do transporte de cargas no Brasil, além de servir de lição aos jovens que, na opinião do empresário Raul Randon, falecido há pouco mais de um ano, não enxergam o sucesso como uma construção lenta e gradual.
– Quando tivemos a ideia de erguer o Memorial, por volta de 2008, desde o começo meu pai se mostrou favorável. A única coisa que ele pedia era que soubéssemos retratar o trabalho como era feito nos primórdios, para mostrar que tudo começa pequeno e devagar. Ele ficava muito aflito com a pressa dos jovens – conta Maurien Randon Barbosa, filha do empresário e diretora do Instituto Elisabetha Randon, responsável pelo Memorial.
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O Memorial será construído numa área de 49 mil metros quadrados entre o Jardim Botânico e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, com três mil metros quadrados de área construída. O complexo terá uma praça circundada por três prédios, que imitam a ferraria do patriarca Abramo Randon; a oficina mecânica em que os irmãos Hercílio e Raul deram início à empresa, em 1949; e o pavilhão onde foram montadas as primeiras carrocerias. Irão abrigar auditório, espaço gastronômico e sala de exposições, além do próprio memorial, que será voltado para receber estudantes e pesquisadores, principalmente das áreas de história e engenharia. Periodicamente, serão ofertados cursos e oficinas nas áreas de curadoria e preservação de documentos históricos.
– Desde 2016 o Memorial atende a pesquisadores, mas de forma muito restrita, geralmente por e-mail. A intenção é que a nova sede ofereça a possibilidade da consulta presencial, além de permitir conhecer a história da empresa através de nossas exposições temporárias e permanentes – destaca Ana Paula de Almeida, historiadora responsável pelo Memorial Randon.
Itens raros e materiais históricos
Ana Paula é a responsável por gerenciar um acervo de quase 35 mil itens que compõem o atual memorial, instalado numa pequena sala, não mais do que 30 metros quadrados, na sede do grupo. São documentos, reportagens, materiais publicitários, premiações, áudios e vídeos de diretores e funcionários, além de projetos originais dos primeiros produtos desenvolvidos pelos irmãos (Hercílio, falecido em 1989, era um inventor inquieto). Com a nova sede, o Memorial irá incorporar relíquias como o primeiro computador e o primeiro telefone da empresa, além de escalimetros, transferidores e outros acessórios de engenharia e mecânica. Parte da memorabilia é do acervo da família, outra parte foi doada por famílias de antigos funcionários.
– A intenção é que não seja um arquivo morto, em que tudo está guardado para não ser mexido. Ao contrário, queremos que tenha uma funcionalidade social e cultural, que atenda à sociedade como referência da história da cidade de Caxias do Sul e do segmento do transporte de cargas no Brasil – pontua a historiadora.
Maurien acrescenta que a inspiração para a sede própria do memorial surgiu após uma visita ao Museu do Automóvel da Ulbra, que ficava junto ao também extinto Museu de Tecnologia da universidade sediada em Canoas. Aliou o interesse ao fato de que o terreno onde será feito o Memorial, por estar numa bacia de captação, não poderia receber uma nova empresa ou um condomínio residencial.
– Recebemos a autorização para fazer alguma coisa que não dê tanto impacto ambiental, por isso aproveitamos para tirar do papel esse projeto, que irá proporcionar para Caxias um novo espaço cultural, educativo e de preservação de memória – ressalta.
Viabilizado pela Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), o projeto está em fase de captação de recursos, tendo a própria Randon como uma das empresas participantes. Qualquer previsão de inauguração irá depender, é claro, do andamento da obtenção dos recursos, que atualmente beira 50%. Com otimismo, Maurien acredita que até o final de 2021 o Memorial estará pronto para abrir as suas portas.