Cabelos já grisalhos na altura dos ombros, vestimenta gaúcha com direito a bombacha e alpargatas, além da inseparável gaita ponto a tiracolo. O relógio recém passava das 18h quando, sob forte chuva, Renato Borghetti subiu ao palco no estacionamento da UCS.
O aclamado acordeonista foi um dos destaques da tarde de encerramento do Festival Música de Rua, que alcançou a oitava edição promovendo o encontro de nomes já consagrados com novidades da cena artística.
— A arte é plural, e o público precisa ter acesso a todas essas manifestações. E esse festival, por ser gratuito, contribui para democratizar a música. Para o artista também é uma experiência muito boa, pois essa mescla muitas vezes gera novos trabalhos, novas parcerias — disse à reportagem um sorridente Borghetti ainda nos camarins.
A programação iniciou-se às 14h30min, sem chuva, quando o público acompanhou com entusiasmo a poesia engajada do projeto Slam das Manas. Estreantes no palco, as caxienses não hesitaram em abordar temas delicados como machismo, homofobia e genocídio da juventude negra, arrancando palmas da plateia em duas apresentações.
— O que a gente quer é ocupar esses espaços e se reconhecer como parte do mundo, por mais que esses caminhos tenham sido historicamente negados para quem é da periferia. Esse palco é um espaço em que a gente merece estar, levando nosso trabalho ao público — ressaltou Polliana Camargo, uma das integrantes do grupo.
Na sequência, foi a vez de Chiquinho Divilas e o projeto Rapajador ocuparem os microfones. O repertório homenageou figuras negras como Zumbi dos Palmares, os lanceiros negros da Revolução Farroupilha e o músico nativista Cesar Passarinho.
A tarde de domingo também teve tempero latino, uma das marcas do festival. Além dos uruguaios do Cuarteto Ricacosa, o público pode conferir a irreverente apresentação do equatoriano Ricardo Pita.
— Venham para perto do palco todos os que são jovens de espírito. Venho de muito longe com minha música — provocou o artista, arriscando algumas palavras em português.
Para terminar, o domingo chuvoso ainda reservou as apresentações do afrofolk da banda Tuyo e a pegada tecnobrega de Keila. Ou seja, prato cheio para quem aprecia a mistura de estilos tão recorrente no evento.
— Essa edição nos deixa alguns legados: a residência artística, o amadurecimento do festival e a resposta de Caxias do Sul para receber essa gama de atrações mesmo num momento em que a cultura não é a coisa mais valorizada. Isso nos deixa animados para seguir — avaliou o curador Luciano Balen.
Com 34 shows, sete palestras e uma inédita experiência de residência artística que contou com a participação de seis músicos, o Festival Música de Rua encerrou sua oitava edição com público superior a 6 mil pessoas — além da expectativa para novas experimentações em 2020.