Poucas marcas são capazes de representar tão bem a cultura gaúcha quanto a que constituiu de si mesmo Renato Borghetti e os elementos tão indissociáveis de sua figura que representa certo tipo de gaúcho, meio do campo, meio da cidade: o chapéu, a cabeleira, a bombacha, a alpargata, o talento com que domina a gaita-ponto, também conhecida por diatônica ou de oito baixos. Neste domingo, o acordeonista desembarca em Caxias do Sul como uma das principais atrações do Festival Música de Rua, evento que proporciona ao público prestigiar figurinhas carimbadas, como Borghettinho, e talentos emergentes da música brasileira e latino-americana.
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— Meu camarim vai estar cheio! — comenta o músico que tem suas raízes na Serra. Seu pai nasceu em Flores da Cunha e boa parte da família, tios e primos, mora em Caxias do Sul.
A ligação com Caxias, contudo, vai além. Borghetti recorda que, no início da carreira, costumava frequentar a histórica fábrica de acordeons Universal, que ficava no bairro São Pelegrino, cujos diretores permitiam a ele personalizar os seus instrumentos. Também lembra de um consertador de gaitas que vivia na cidade, um tal Artibando, com o qual viveu uma história curiosa envolvendo outros dois acordeonistas sagrados:
— Quem me apresentou o Artibando foi o seu Honeyde Bertussi, que me levou até ele com uma gaita cromática, queria que eu tocasse. Só que, como eu segui na gaita ponto, essa mesma gaita do Honeyde acabou sendo a primeira cromática do Oscar dos Reis, que até então tocava o acordeon pianado (com teclas ao invés dos botões da gaita ponto).
Alternando apresentações em duo com o violonista Yamandu Costa e como solista convidado de orquestras, o único brasileiro a vender 100 mil cópias de um disco instrumental (Gaita Ponto, 1984) traz ao Música de Rua o trio que o acompanha há longa data. Com o violonista Daniel Sá e o pianista Vitor Peixoto, a parceria já soma mais de 30 anos. O flautista Pedro Figueiredo já integra o time há 14 anos.
— Essa formação foi pensada porque eu quis evitar baixo e bateria, que te dá uma sonoridade mais conhecida, mas que é justamente o que eu não queria. O que esse quarteto me dá é a mão esquerda do piano como o baixo, fazendo o grave, e o violão cumprindo a função mais rítmica, como se fosse a função da bateria. Isso é para poder primar pelos ritmos e pela harmonia. A intenção é mostrar uma concepção diferente de harmonia, de composição, por isso acho que esses instrumentos conseguem valorizar mais esses aspectos — diz.
O repertório que o público poderá conferir no estacionamento da UCS será baseado no DVD ao vivo Gaita na Fábrica, lançado em 2017, com temas como Milonga de la Puteada, Brincando com a Dora e Araçá. O músico, contudo, diz que irá incluir composições de outras fases de sua carreira, o que faz crer que não deixará de fora sucessos como Sétima do Pontal e Milonga Para As Missões, tão seminais para a construção de seu mito como o chapéu, o cabelo, a bombacha, a alpargata.
Agende-se
O quê: Renato Borghetti no festival Música de Rua
Quando: domingo, 17h30min (o festival inicia às 14h30min)
Onde: estacionamento da UCS, em Caxias do Sul
Quanto: entrada gratuita