Quem acompanha a carreira de Uiliam Michelon pode até estranhar que o virtuoso acordeonista nunca tivesse lançado álbum, tamanho o reconhecimento que o vacariense já alcançou na cena regional. Bom, se havia uma sensação de dívida para com o público, ela agora está paga. Já está nas praças físicas e virtuais o álbum Uiliam Michelon Quarteto, que traz nove temas autorais e todo o repertório de influências que vão da milonga e do chamamé ao jazz cigano.
Acompanhado dos competentes Thiago Carlotto (guitarra e violão), Gleidson Dondoni (bateria) e Everton Hoffmann (baixo), Michelon explora a veia de compositor que o acompanha desde a adolescência, quando passou a rabiscar os primeiros temas. Diz ter sido a época em que desenvolveu o gosto pela música instrumental, inspirado em mestres como os argentinos Astor Piazzolla e Raúl Barboza.
— São músicos capazes de passar uma energia muito grande através dos seus instrumentos. Acho incrível como a melodia de uma gaita ou de um violão é capaz de construir um sentido diferente na cabeça de cada ouvinte, que vai emocioná-lo de na medida em que ele se abra para isso — comenta o músico.
Ao acrescentar a bateria à sua tradicional formação "chamamecera" de gaita, violão e baixo, Michelon diz que a intenção é aproximar o seu som ainda mais do jazz, sem deixar de fora os elementos da música regional, que são o seu chão.
— Sempre me perguntam se o que eu toco é música gaúcha, e fato é que não sei responder se é ou não é. Minhas raízes musicais com certezas estão na música folclórica gaúcha e nos ritmos latino-americanos, como a milonga, o chamamé e o tango, mas sempre tentei dar um toque mais universal, acrescentando algo do jazz e da música clássica. Acho que esse disco pisca com um pé nessa terra e o outro no resto do mundo — divaga.
Em uma década de carreira, a experiência fonográfica de Uiliam até aqui se restringia a participações em álbuns de cantores e grupos nativistas. Nos palcos, teve como pontos mais altos o Rodeio Internacional de Vacaria e o festival Tum Tum Instrumental, de Caxias do Sul. Ao oferecer ao mercado e ao público sua primeira obra autoral — lançamento independente, mas com patrocínio e apoios importantes —, o acordeonista de 37 anos mostra-se pronto para levar sua música cada vez mais longe.