Um trecho do clássico da literatura Moby Dick, de Herman Melville, abre o filme argentino Um Amor Inesperado, estreia desta semana na Sala de Cinema Ulysses Geremia, em Caxias. O texto é lido pelo personagem de Ricardo Darín, astro do cinema latino cuja presença costuma valer a ida ao cinema. A cena poetiza sobre a vontade de lançar-se ao desconhecido, inquietude que acomete qualquer pessoa e que, muitas vezes, incentiva o término de relacionamentos. O prólogo é adequado, já que o filme acompanha o fim e pós-fim do casamento entre o professor de literatura Marcos (Darín) e a pesquisadora de tendências Ana (Mercedes Morán). Porém, o romance do diretor Juan Vera leva esse mergulho mais além e, ao invés do terrível cachalote branco, coloca seus personagens a duelar com o medo da morte, com a solidão, com a busca pela liberdade, com as prisões sentimentais, com as expectativas frustradas.
O princípio do fim do casamento de Marcos e Ana é a partida do filho deles para um intercâmbio na Espanha. Acometida por uma espécie de depressão que remete à síndrome do ninho vazio, a mãe passa a se questionar também sobre sua vida amorosa. É como se ao mesmo tempo que um mundo de possibilidades se abrisse ao filho, ao pais restasse somente a rotina e as poucas perspectivas de mudança. Após uma conversa comedida e racional sobre paixão, o casal decide pelo divórcio.
A partir daí, Um Amor Inesperado ganha tons mais cômicos, principalmente nas cenas que envolvem as peripécias amorosas do casal recém-separado. Após 25 anos de convivência, intimidade e cumplicidade, Marcos e Ana se lançam no mar de novidades dos relacionamentos líquidos. Nesse aspecto, o filme analisa de forma divertida os tempos atuais de aplicativos como Tinder. Ao mesmo tempo, também retrata o reencontro da mãe idosa de Ana com um amor à moda antiga, traçando um paralelo interessante.
O caos se instala de diferentes formas para os personagens principais. A divisão dos pertences de cada um, num apartamento cheio de memórias, parece representar essa necessidade de colocar ordem em algo para depois abandonar com calma. Se libertar dos pertences acumulados, no entanto, é bem mais fácil do que se livrar das expectativas colocadas em cima de quem amamos. É o que o casal experimenta quando o filho decide largar os estudos para fazer um mochilão pelo mundo. Mesmo se alongando em alguns temas menos importantes – o filme tem 136 minutos de duração! –, Um Amor Inesperado traz um olhar interessante sobre a maturidade do amor.
De brinde, o espectador ainda recebe cenas como a do jantar entre Marcos e o pai viúvo (preste atenção nele), que narra um episódio de extrema solidão de maneira tocante. O longa de Juan Vera coloca o fim de um longo relacionamento como pano de fundo para falar sobre a necessidade da convivência e do afeto, e sobre como a liberdade pode ter sentido diferente para cada um de nós. Às vezes, o melhor da viagem é o retorno para casa.
Programe-se:
:: O quê: romance argentino Um Amor Inesperado, de Juan Vera.
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quando: estreia nesta quinta (18) e fica em cartaz até o dia 28 de abril, com sessões de quinta a domingo, sempre às 19h30min.
:: Quanto: R$ 10 (geral) e R$ 5 (estudantes, idosos e servidores municipais).
:: Duração: 136min.
:: Classificação: 14 anos
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