Entre as produções de áudio drama que se destacam no cenário brasileiro está o Contador de Histórias, de Danilo Battistini, 29 anos. Morador de Santo André (SP), ele é o responsável pelo podcast que oferece histórias dramatizadas que, normalmente, flertam com o suspense e o horror. Cada episódio do podcast costuma oferecer um episódio fechado com duração que varia de 10 a 20 minutos. Em suas produções, Danilo conta com dubladores profissionais e chama atenção pela boa qualidade técnica com seus efeitos sonoros — ele também trabalha como pós produtor de áudio e sound designer. No ar desde 2016, o Contador de Histórias traz tramas originais, como O Quarto de Hotel e Mortes ao Som de Jazz.
— Tenho vários cadernos pequenos, onde escrevo todo tipo de ideia. Quando inicio algum projeto, leio o que escrevi e trabalho em cima da ideia que me chamar atenção. Monto a história aos poucos. Geralmente, em duas semanas consigo finalizá-la para passar a limpo no roteiro. Depois, vou atrás do elenco, o que geralmente leva mais um mês até conseguir gravar todas as personagens. Em seguida, dependendo da complexidade da história em termos de sonorização, em umas 10 horas de edição eu consigo finalizar um áudio drama de uns 15 a 20 minutos — descreve Danilo, também autor do podcast Contador de Historinhas, áudio drama infantil.
Todo o trabalho de produção que pode levar mais de um mês não é monetizada — ele só recebe doações por meio de plataformas de financiamento coletivo. Danilo diz que arquiteta o Contador de Histórias apenas para contemplar o resultado final.
— Acho importante motivar esse tipo de produção para que aqui no Brasil tenha um cenário tão rico em produções de áudio drama quanto existe lá fora. Quero ajudar mais pessoas a conhecerem e terem a chance de se apaixonar por esse gênero também. Gosto dos comentários de pais e mães que escutam com filhos e filhas. Uma vez, um ouvinte me mandou uma carta que a filha dele escreveu por gostar do episódio Imaginário: Onde o Folclore Vive — explana. — Nessa época de muita coisa em vídeo, YouTube, Netflix, Amazon Prime e afins, essas produções só em áudio ajudam a manter nossa imaginação e criatividade sempre em exercício — complementa.
Motivações
Outro áudio drama brasileiro de destaque no cenário de podcasts é 1986, feito por Guilherme Afonso, 32 anos, de São Paulo. Ele mantém uma produtora chamada Estalo Podcasts, que produz programas e séries em áudio. Com duas temporadas no ar e tendo uma terceira em vista, a trama de 1986 envereda para a ficção científica. A primeira temporada é ambientada em um "passado distópico", nos anos 1980, em meio a um inverno nuclear. Já a sequência trabalha com a relação da humanidade com a inteligência artificial. Nos dois casos, Guilherme dubla os protagonistas, e cada episódio leva de uma média de 10 a 12 horas para ser editado.
Assim como Danilo Battistini, ele é motivado pela recompensa de ver o áudio drama pronto.
— Tenho tesão muito grande em colocar o fone de ouvido, pegar o roteiro e as vozes, imaginar a cena e construi-la. É muito gratificante ver o quanto a gente consegue criar só com áudio, vivendo em uma era de YouTube, que tudo é muito visual. Já recebi e-mail de gente que tinha depressão dizendo que a história que eu contava ativava a imaginação dele, e isso o ajudou. Uma motivação é essa troca com o ouvinte — sublinha. — Óbvio que uma vontade financeira aparece, embora eu não tenha lucro com a produção de 1986. Tenho esperança que as marcas comecem a enxergar o podcast como meio de publicidade.
Já o ilustrador Vitor Hugo Mota, 37 anos, partiu da premissa em aproveitar o áudio drama como uma atração direcionada aos cegos. Ele criou a Agência Transmídia como podcast, mas logo começou a produzir material diversificado pela plataforma. Morador do Rio de Janeiro, Vitor é o responsável pelo áudio drama Sentinelas (inicialmente chamado de Khaoz Crescente), que acompanha as peripécias de um time de super-heróis em três temporadas, com um total de 28 episódios.
— Quando me dei conta que muitos dos meus amigos cegos gostavam mais do meu trabalho em som do que o visual, por motivos óbvios, tive o estalo de que não adiantava o quão bem eu desenhasse: os cegos nunca terão a oportunidade de usufruir daquilo tudo. Foi aí que decidi fazer algo pra eles, tornar acessível uma história em quadrinhos para um cego, descrevendo de maneira dinâmica. Para não ter problemas de direitos autorais, adaptei uma graphic novel que escrevi 10 anos antes, fazendo uso de áudio descrição — relata. — Esse produto me permitiu conhecer mais sobre o mundo dos deficientes visuais e de como eu poderia ajudá-los a se divertir tanto quanto qualquer pessoa que enxerga.
Conheça alguns áudio dramas brasileiros:
:: Contador de Histórias
Quem faz: Danilo Battistini.
Como é: histórias dramatizadas de suspense e horror.
Onde ouvir: Spotify e contadordehistorias.art.br
:: 1986
Quem faz: Guilherme Afonso
Como é: jornada de um sobrevivente de um inverno nuclear.
Onde ouvir: 1986podcast.com.br
:: Sentinelas
Quem faz: Vitor Hugo Mota
Como é: super-heróis brasileiros se unem para combater uma ameaça.
Onde ouvir: agenciatransmidia.com.br
:: Podstoria
Quem faz: Danton Freitas
Como é: crônicas com personagens e referências da cultura pop.
Onde ouvir: podstoria.com
:: Aventuras Bizarras
Quem faz: Joe e Guido Guidini
Como é: Joe e Guido narram encontros divertidos com diversos personagens.
Onde ouvir: https://podcastche.com.br/podcast/joe-e-guido-aventuras-bizarras/
:: A Voz de Delirium
Quem faz: André Monsev e Lucas Kircher
Como é: radialista narra o cotidiano de uma cidade fictícia.
Onde ouvir: https://deliriumoficial.com/
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